Cerca de 4 mil pessoas compareceram aos enterros de 11 das 12 vítimas do massacre na Escola Municipal Tasso da Silveira em quatro cemitérios do Rio de Janeiro. Em um clima de comoção, 155 pessoas foram atendidas por equipes médicas e 13 removidas para hospitais. A tia-avó de uma das vítimas sofreu um enfarte no Cemitério do Murundu, em Realengo, e outra pessoa foi internada com suspeita de acidente vascular cerebral (AVC) no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, na zona oeste do Rio.A ministra da Secretaria dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, foi a primeira autoridade a comparecer ao velório no Cemitério do Murundu e saiu chorando sem falar com a imprensa. O secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, viu a sepultura da estudante Laryssa Silva Martins, de 13 anos, ser fechada e chorou ao acompanhar o enterro de Mariana Rocha de Souza, de 14 anos. "Estou aqui como cidadão. Tenho uma filha chamada Mariana que também circula pelas ruas do Rio", afirmou. Helicópteros da Polícia Militar jogaram pétalas de rosas nos cemitérios.
As alunas Mariana e Laryssa foram veladas em capelas vizinhas. A primeira embalada por cantos de candomblé e a segunda, por cânticos católicos. "De onde saiu este cara [o assassino] ? Ele conseguiu destruir minha família", disse o padrinho de Laryssa, o motorista de ônibus Gérson da Silva, de 47 anos. No velório ao lado, os parentes de Mariana lembravam o grande sonho da menina. "Ela dizia que ia estudar para dar uma casa para a mãe, que é empregada doméstica", disse o tio da menina, o mecânico Edvaldo de Oliveira, de 41 anos.
Sonhos desfeitos
O terceiro enterro foi de Bianca Rocha Tavares, de 13 anos. A irmã gêmea dela também foi baleada e continua hospitalizada. Amigo das duas desde o jardim de infância, o estudante Jefferson Luiz Ferreira de Souza, de 13 anos, tentava entender o que aconteceu. "Minha amiga queria ser médica e era uma pessoa boa. Eu encontrava com ela na escola e na igreja aos domingos. Não entendi por que isto aconteceu com ela", disse.
O trauma era compartilhado pelas irmãs de outra vítima, Milena dos Santos do Nascimento, 14 anos. "As irmãs dela [de 12 e 15 anos] estudavam na mesma escola e estavam no dia da chacina. Acredito que vão precisar de atendimento psicológico", revelou a tia das meninas, a costureira Ana Rosa Nascimento Alves, 54 anos.
No Cemitério de Ricardo de Albuquerque, colegas da estudante Géssica Guedes Pereira, 14 anos, também foram ao sepultamento traumatizadas com as cenas da chacina. "Eu escapei porque saí correndo. Eu vi ele matar as duas meninas que estavam sentadas ao meu lado. A Géssica foi uma delas", contou Taiara Dantas, 14 anos, aluna da turma 1803.
No Cemitério Jardim da Saudade, foram enterradas Larissa Atanásio, 13 anos; Karine Oliveira, 14 anos; Luiza Machado, 14 anos; Igor Silva, 13 anos; e Rafael Silva, 14 anos. Já Samira Ribeiro, 13 anos, foi sepultada no Cemitério de Santa Cruz. Hoje, o corpo de Ana Carolina Pacheco da Silva, 13 anos, será cremado no Cemitério do Caju, na zona portuária do Rio.
Doação de órgãos
Quarenta e uma pessoas serão beneficiadas com córneas, ossos e tendões doados por famílias das vítimas do massacre de Realengo. O Banco de Olhos de Volta Redonda captou oito córneas, de quatro crianças, e o Banco de Tecidos do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia captou ossos e tendões de uma menina, que serão aproveitados por 33 receptores.
Nenhuma das vítimas teve morte encefálica. Por isso não foi possível a doação de órgãos nobres, como coração, rins e fígado.