Um estudo elaborado por uma empresa especializada em gerenciamento de risco prova que a localização da praça de pedágio em Garuva (SC), na divisa com o Paraná, pode oferecer perigo aos motoristas que seguem pelas BRs 376 e 101 em direção ao sul. A proximidade da praça com a Serra do Mar poderá causar dificuldade de frenagem em caminhões. Isso porque, durante a descida da Serra, o freio dos veículos é muito utilizado e fica aquecido, tendo a eficácia comprometida. O risco já havia sido apontado por reportagem da Gazeta do Povo publicada no dia 11 de janeiro.
O relatório da empresa Pamcary avaliou pontos críticos, as condições da rodovia próximo ao local de cobrança e potenciais riscos ao ambiente. O relatório recomenda que os caminhoneiros não trafeguem pelo local entre as 22 e 5 horas. Nos demais horários, apenas veículos com a manutenção em dia podem passar pelo trecho. Além disso, os condutores devem ser experientes e familiarizados com o trecho. "Vencido o longo trecho de serra, a capacidade de parada a 0 km/h torna-se muito mais difícil, pois o sistema de freios ainda encontra-se em temperatura elevada, o que pode dificultar a parada total do veículo na praça do pedágio, que fica logo próximo a uma curva em declive", diz o documento.
Um dos pontos positivos apresentados pelo estudo é que a rodovia está bem sinalizada e a pista está em bom estado de conservação. Por outro lado, além de a praça estar em um local muito próximo a uma curva, há um tráfego intenso de veículos, o trecho é sinuoso e com declives, falta iluminação e a comunicação via celular é falha.
O engenheiro mecânico Rubem Penteado de Melo, que participou do estudo, diz que todos os caminhões perdem um pouco de eficiência na frenagem quando o sistema é exigido constantemente, mas não ficam sem freio. Somente quando a temperatura do sistema ultrapassa 350 graus ocorre um processo chamado "vitrificação", que compromete o bom funcionamento. "Não significa que todos os caminhões vão ter problemas, mas sim que as chances de ocorrer um acidente aumentarão", ressalta. Ele diz que é preciso um estudo mais aprofundado no local para medir a temperatura dos caminhões no pé da Serra e na praça do pedágio.
Melo explica que, nos casos em que há ampla utilização do freio, é preciso que o caminhão percorra no mínimo um trecho em linha reta de 15 minutos, com uma velocidade de 70 km/h, para resfriar o sistema. Isso equivale a um trecho de18 km, considerando uma temperatura ambiente de 20 graus. Se a velocidade permitida for superior a 70 km/h ou a temperatura ambiente for maior que 20 graus é preciso percorrer um trecho maior. "Por isso é preciso um estudo mais detalhado do local", explica.
No dia 11, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) informou à Gazeta que a responsabilidade sobre a escolha da localização das praças era do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit). A assessoria de imprensa do Dnit disse ontem que a responsabilidade é na verdade da ANTT e da concessionária que assumiu o trecho, a espanhola OHL. O Dnit afirma que um estudo foi feito na metade da década de 90 para fazer a duplicação das BRs 376 e 101 e foram sugeridos pontos onde poderiam ser construídas praças. De acordo com o Dnit, se a ANTT e a OHL não fizeram um estudo novo, cometeram o erro de se basear em um relatório defasado, que não previa o volume atual de tráfego intenso.
A assessoria de imprensa da OHL informou que mudar a praça de local é impossível e que a concessionária apenas seguiu as determinações do contrato. Além disso, engenheiros da OHL visitaram o trecho e concluíram que não há grandes riscos. A assessoria diz que há ampla sinalização que possibilita que os motoristas reduzam a velocidade quando se aproximam da praça.