A operação "Lava-Jato", da Polícia Federal (PF), que prendeu 24 pessoas em sete estados, na última segunda-feira, por crimes contra o sistema financeiro, deverá reacender fatos ligados ao mensalão esquema ilegal de financiamento político usado para corromper parlamentares durante o primeiro mandato do ex-presidente Lula.
A investigação da PF pretende provar que Alberto Youssef era o principal proprietário da corretora Bônus Banval, e não Enivaldo Quadrado. A corretora foi responsável por diversas transações investigadas durante a apuração sobre os mensaleiros. Segundo a polícia, Quadrado é um "laranja" do doleiro. Os dois estão entre os presos na operação deflagrada na segunda-feira.
"[A investigação] provavelmente vai levar à constatação de que a Bônus era dele. O Youssef foi ouvido na CPI dos Correios e negou que tivesse qualquer relação com a corretora. Mas isso vai ser melhor esclarecido nos próximos dias e vai ficar bem claro que, na verdade, não era isso. Que ele [Youssef] realmente movimentou recursos ligados ao grupo objeto da ação penal do caso do mensalão", afirma o delegado regional da unidade de combate ao crime organizado no Paraná, Igor Romário de Paula. Ele e o delegado federal Márcio Anselmo são os responsáveis pela operação "Lava-Jato".
Durante a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios, em 2005, Youssef chegou a negar em depoimento que tinha ligações com a Bônus Banval. Ano passado, Quadrado, suposto proprietário da corretora, foi condenado por diversas operações realizadas pela empresa no julgamento do mensalão. O Ministério Público Federal (MPF) denunciou Quadrado, na época, por ter recebido R$ 11 milhões do "valerioduto" para ser distribuído a parlamentares do Partido Progressista (PP).
"Ele [Enivaldo Quadrado] está sendo investigado por atuar como um laranja. É praticamente um laranja do Youssef. Muitas operações foram atribuídas a ele, proprietário da Bônus Banval, mas o responsável por elas era o Youssef", diz o delegado.
Durante a tarde de ontem, a reportagem chegou a conversar com o advogado Antônio Sérgio Pitombo, que defendeu Quadrado no julgamento do mensalão. Até aquele momento, Pitombo não havia sido constituído como defensor de Quadrado. Quando do primeiro contato, a reportagem ainda não tinha as informações sobre a relação com o caso do mensalão. Ao tentar conversar com Pitombo novamente, o celular do advogado já estava desligado. A reportagem também não conseguiu localizar o defensor de Youssef.
Entre os fatos investigados pela PF está o pagamento feito por Youssef ao ex-diretor de abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto da Costa, em março de 2013. Segundo o delegado, Youssef deu uma caminhonete Land Rover ao ex-diretor. A PF investiga o motivo. "Que ele [Youssef] pagou para o Paulo, pagou. Naturalmente não é algo lícito, se não, não teria porque ser pago dessa forma", diz o delegado. A reportagem tentou também, sem sucesso, localizar Costa.