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Tropeiros

Legado construído no lombo do cavalo

Quadro de Aimé Taunay retrata um tropeiro no início do século 19 | Reprodução
Quadro de Aimé Taunay retrata um tropeiro no início do século 19 (Foto: Reprodução)

Sobre o lombo das mulas, os tropeiros começaram a redesenhar o mapa do Brasil. O movimento, que começou por volta de 1730, registrou até o seu ápice, em 1897, quase 4 milhões de muares que foram do Rio Grande do Sul até a região de Sorocaba. Ao longo dos caminhos das tropas, diversas fazendas, chamadas de invernadas, eram alugadas para os animais se alimentarem e as tropas descansarem. Ao redor desses locais, muitas cidades foram surgindo, como Castro, Curitibanos, Ponta Grossa, Rio Negro e Lapa.

Em média, cada cidade que se originou devido à passagem das tropas está distante o equivalente a um dia de viagem dos tropeiros. Estima-se que mil municípios foram formados devido à passagem dos tropeiros. Isso aconteceu porque as pessoas que iam para aquelas localidades vender mercadorias e prestar serviços de seleiros e ferreiros acabavam se fixando próximo a algumas das invernadas.

Outro fato fundamental decorrente do tropeirismo foi a aproximação da Região Sul com o restante do país – principalmente o Rio Grande do Sul, que era um território com fronteiras incertas. "Sem os tropeiros, o Brasil não teria o Sul. Eu, por exemplo, não estaria por aqui e, se estivesse lhe respondendo sobre outro assunto, seria em espanhol", afirma o pesquisador do tema Márcio Assad.

Para o também pesquisador Carlos Solera, autor de dois livros sobre o assunto, "se hoje falamos uma linguagem única em nosso país, o português, isso se deve às caminhadas das tropas". "Também a gastronomia, músicas, danças, religiosidade, ofícios, indumentária, tudo isso recebeu forte impacto da atividade tropeira. Outro fator importante foi a formação de ‘novos ramos familiares’, pois tropeiros em suas andanças conheciam moças por onde passavam e acabavam se casando, dando origem a novas famílias", explica.

Legado

O legado do movimento é tão significativo que um projeto que será analisado pela Unesco pode transformar o tropeirismo como patrimônio cultural da humanidade. O projeto, elaborado por Solera, em parceria com a Universidade de Girona, da Espanha, levará de três a cinco anos para estar finalizado e formatará um grande banco de dados.

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