Cada um dos quatro batalhões da Polícia Militar (PM) de Curitiba recebeu neste ano 15 tablets para equiparem suas viaturas. Outras unidades ainda devem ganhar o equipamento em breve. É uma pequena parte do legado atrasado da Copa do Mundo que começa a ser usado agora, quase dois anos após o evento. Os aparelhos chegaram aos batalhões para possibilitar o mínimo de controle na localização das viaturas e até mesmo a gravação das ações policiais. São cerca de 200 tablets que foram usados pela Secretaria Extraordinária de Grandes Eventos para monitorar as delegações das seleções que vieram a Curitiba em 2014.
Além de localizar as viaturas em tempo real, o dispositivo poderá ser usado para filmar as ações policiais. Um sistema remoto, da própria Diretoria de Desenvolvimento Tecnológico e Qualidade da PM, pode acionar a câmera do tablet. O equipamento, porém, não tem muito alcance e nem capacidade de armazenamento.
Mas o maior problema no momento é que, por falta de uma diretriz interna, os policiais não têm usado os aparelhos com a devida frequência. A diretriz nada mais é do que uma regulamentação de como o policial deve usar o tablet – e que deve especificar também uma sanção para o caso de o PM desligar o equipamento, por exemplo.
A reportagem solicitou entrevista com o comandante-geral da PM, Maurício Tortato, mas não houve retorno até a finalização deste texto.
Câmeras não são necessárias, diz secretário
Segundo o secretário de Estado da Segurança Pública e Administração Penitenciária, Wagner Mesquita, os tablets são necessários, principalmente, para controle da localização das viaturas e para a comunicação com o Centro de Comando e Controle, onde há todo o sistema de monitoramento de câmeras.
“O tablet não tem o objetivo de vigiar os policiais ou manter um ambiente de vigilância 24 horas do trabalho policial. Tem o objetivo de localizar as viaturas e propiciar uma maneira de controle. O policial pode tirar foto de suspeito, documento e passar para o centro de comando e controle”, afirmou Mesquita. Segundo ele, não há a necessidade de fiscalizar a PM pelo vídeo dos tablets porque a polícia tem uma “corregedoria forte e atuante”.
Na avaliação dele, os aparelhos não fazem parte do plano de governo. “É uma forma de aproveitar o legado da Copa. Temos, sim, a ideia de ter o AVL [sigla em inglês para Localização Automática de Veículos] na viatura”, mencionou.
Análise
O coronel da reserva paulista José Vicente Silva, ex-secretário nacional da Segurança Pública, defende que os tablets sejam usados principalmente para acessar bancos de dados. “Em São Paulo, já se usa o dispositivo há algum tempo e facilita o acesso dos policiais para verificar suspeitos e placas de veículos. Antes, eles tinham de telefonar para a central para descobrir as informações necessárias.”
Ele acredita que o dispositivo vai dar mais agilidade ao trabalho da PM e servirá também para proteger os policiais. “Outro aspecto importante é a coleta de evidências, como em casos de resistência à prisão. Muitos costumam acusar os policiais de agressão, mas, com a possibilidade de filmar, haverá uma proteção do policial”, observa.
