Brasília (AE) Bons tempos aqueles, de 1956, quando Tom Jobim e Vinicius de Moraes começaram a fazer música juntos por exemplo, "Se Todos Fossem Iguais a Você" e Dondinho, o pai de Pelé, procurava clube para seu filho de 15 anos. Foi nesse Brasil de 60 milhões de habitantes, pronto para mergulhar nos anos dourados, que o mineiro Juscelino Kubitschek de Oliveira recebeu, aos 54 anos, a faixa presidencial das mãos do presidente Nereu Ramos, há 50 anos. Era uma tarde quentíssima de terça-feira, aquele 31 de janeiro, no Palácio Tiradentes, no centro do Rio de Janeiro.
A cena foi rápida. Entre 2h15 e 3h00 da tarde Juscelino fez juramento, discurso, recebeu abraços e pouco depois estava no Palácio do Catete, assumindo o poder e dando posse aos ministros. Arrancou-os todos da cama na manhã do dia seguinte para a primeira reunião ministerial, às 7 horas, em que expôs os 30 pontos de seu Plano de Metas, distribuiu tarefas e foi de helicóptero buscar no Hotel Copacabana o vice-presidente americano Richard Nixon, o mais ilustre convidado de sua posse, para uma visita à usina de Volta Redonda. No caminho, Juscelino conseguiu dele um empréstimo de US$ 35 milhões para a siderurgia
Não era entusiasmo de iniciante, era um estilo. JK passou seus 1.825 dias no poder trabalhando, viajando, rindo, gastando, inaugurando, namorando e espalhando otimismo por todos os lados. Cinco décadas depois, muitos ainda perguntam se sua obra valeu o altíssimo déficit que ele deixou, mas todos admitem que JK foi uma figura rara, um marco na nossa história. Que o digam os 25 milhões de telespectadores da minissérie JK, da Rede Globo de Televisão.
"Não é correto avaliar o governo JK sem considerar o contexto", diz o historiador e ex-ministro Ronaldo Costa Couto. Ele lembra que a economia brasileira não era, então, muito maior que a da Bolívia hoje. "Como acordar o gigante e colocá-lo para correr? Com política econômica ortodoxa e passinhos curtos? Ou tentando um atrevido choque de desenvolvimento para romper a inércia histórica?". Juscelino, para Costa Couto, fez exatamente o que devia. "Mesmo a caneladas, planejando o possível e improvisando o que fosse necessário, JK e equipe sonharam e ousaram.
A maioria dos que se lembram concorda. Ajudado pelo destino, Juscelino "deu um choque de otimismo na velha tradição de descrença nas potencialidades do país", como lembra outro estudioso da vida republicana, o historiador José Murilo de Carvalho. " Além disso, houve o choque desenvolvimento e o que JK conseguiu, no caso, foi de se tirar o chapéu. Ele abriu 13 mil quilômetros de estradas, outros 3 mil de ferrovias, inaugurou imensas hidrelétricas (como Furnas e Três Marias), criou as indústrias automobilística e naval. Fez Brasília em 42 meses. O crescimento médio do PIB, em seus cinco anos, foi de 8,2% e o da indústria aumentou em quase 50%", acrescenta.
O déficit público, no entanto, saltou de 1% (do PIB) para 4% e a inflação chegou a 30% quando ele saiu.