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Legítima toada sertaneja

Valdir Antônio Webber e os discos que embalaram sua mocidade: Cascavel recém-nascida | Christian Rizzi/Gazeta do Povo
Valdir Antônio Webber e os discos que embalaram sua mocidade: Cascavel recém-nascida (Foto: Christian Rizzi/Gazeta do Povo)
A pioneira em sua casa: desde sua chegada Eduviges Nhepes viveu tantas fases quanto Cascavel |

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A pioneira em sua casa: desde sua chegada Eduviges Nhepes viveu tantas fases quanto Cascavel

O advogado Valdir Antônio Webber chegou em Cascavel ainda menino, aos 13 anos. Era 1952, um ano após o município ter sido emancipado. Comunicativo e descontraído, Webber logo se enturmou e conseguiu emprego. Foi trabalhar como sonoplasta no primeiro veículo de comunicação de massa de Cascavel, como ele mesmo intitula: um serviço de alto-falante.

Apelidado de ‘cornetões’, os alto-falantes funcionavam entre o entardecer e as 22 horas, na Praça Getúlio Vargas, e eram a principal diversão e passatempo do povoado, no qual não havia nem sinal de energia elétrica. Notícias do Repórter Esso – captadas por um rádio de ondas curtas – comerciais, anúncios de aniversário e música, muita música, animavam o então povoado de Cascavel. As canções Meu Primeiro Amor e Índia, da dupla Cascatinha e Inhana, eram as mais tocadas. "Na época eu colocava a bolacha preta (o disco de vinil) para rodar", lembra Webber.

O serviço tinha a função de entreter e divertir moradores e trabalhadores envolvidos no projeto da Comissão de Estradas de Rodagem 1 (CER-1), responsável pela implantação da rodovia BR-35. Batizada de "Estratégica", mais tarde a via passou a ser conhecida como BR-277, a primeira ligação rodoviária entre o Oeste do estado e Curitiba. O traçado da rodovia cortava o então vilarejo de Cascavel.

Após a saga nos cornetões, Webber foi trabalhar em um banco cooperativo. Passou por todos os departamentos. Com o tempo, o estabelecimento foi liquidado e ele perdeu o emprego. Mas isso não foi problema na vida do pioneiro que chegou a Cascavel com a ânsia de continuar os estudos iniciados na cidade catarinense de Videira. "O caipirinha colocou as trouxinhas nas costas e se mandou para a capital", recorda. Webber morou por 12 anos, de onde voltou com o diploma de Direito da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e onde conheceu a mulher da sua vida.

Ao voltar à cidade, atuou como advogado, foi assessor jurídico da prefeitura e agente da Previdência Social. Hoje, aos 73 anos, Valdir lembra como se fosse ontem os principais ciclos de Cascavel. Da época da erva-mate, recorda o embarque de fardos que saíam da cidade aos portos brasileiros, em direção à Argentina e à Europa. Também faz menção aos operários da erva-mate – brasileiros, argentinos e paraguaios – submetidos ao que define como ‘trabalho escravo’. "O sujeito trabalhava, trabalhava e sempre ficava devendo para a firma".

Já no ciclo da madeira, Webber conheceu as primeiras duas serrarias de Cascavel. Pertenciam ao então governador Moisés Lupion. As madeiras, de primeiríssima qualidade, saíam de Cascavel para o mundo. "Devemos ter móveis e artefatos de madeira do pinheiro de Cascavel entre os italianos, suíços".

Quando acabou o ciclo da madeira, anunciava-se o fim de Cascavel, conta o pioneiro. O pavor tomou conta do município, até que a soja apareceu para trazer de volta a esperança da população. "Quando Cascavel parecia que ia acabar porque não tinha mais madeira, aconteceu o boom da soja. A soja foi efetivamente a salvação da lavoura".

Os pioneiros e as "máquinas devoradoras de matas"

O quintal da casa do empresário Dércio Galafassi, 77 anos, na área central de Cascavel, é o retrato da cidade na época da colonização. Pinheiro de araucária, cedro e canafístulas dão o tom do povoado cascavelense na década de 1950. "Eu até deixei uns carreiros para simbolizar que quando os desbravadores chegaram eles precisavam percorrer picadas para chegar onde queriam", conta.

A madeira era o ‘ouro’ de Cascavel na colonização. A cidade chegou a ter mais de 150 serrarias e fornecia toras para o Brasil e o mundo. Tudo era aproveitado, porém, aos poucos, a floresta passou a ser dizimada pela ação das máquinas devoradoras da mata, lembra Galafassi. "A gauchada e os catarinenses chegaram com as máquinas devoradoras de mata".

O ciclo da madeira marcou a vida de Galafassi. Gaúcho de São Francisco de Paula, ele é filho do pioneiro Florêncio Galafassi, que foi diretor da Industrial Madereira, empresa referência na exploração e exportação de madeira na região.

O pai de Galafassi chegou em Cascavel em 1948 de uma forma inusitada. Ele aterrissou de avião onde hoje é a Avenida Brasil. Depois daquele episódio, não largou mais a cidade e trouxe a família inteira.

Dércio pisou em Cascavel em 1950, quando tinha 15 anos. O pai foi buscá-lo de jipe no aeroporto de Foz do Iguaçu. A BR-277 ainda não existia e o percurso foi feito via picada Benjamin, conhecida como Rota de Guarapuava, conta o pioneiro.

A estrada, a única via de acesso a Cascavel, margeava o Parque Nacional do Iguaçu. "Quando chegamos eu fiz a última pergunta para meu pai. Falta muito para chegar em Cascavel? Ele disse ‘aquilo lá é Cascavel’. Mas não se via nada, era só pó", lembra.

Ao longo da história de Cascavel, Galafassi foi meio campo da equipe do Tuiti e vereador . Na atual residência, exibe uma biblioteca com jornais antigos, livros e a máquina Remington comprada com um financiamento feito do Banco Agrícola do Vale do Piquiri.

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Vida e Cidadania | 3:07

O advogado Valdir Antônio Webber era sonoplasta da principal atração de Cascavel no início da década de 50, os alto-falantes. Conhecidos como "cornetões", funcionavam entre o entardecer e às 22 horas, na Praça Getúlio Vargas.

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