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Sempre leio vários livros ao mesmo tempo, cada um deles ocupando um espaço mental e físico diferente na minha vida. Há os livros de viagem – esses só podem ter até 250 páginas, e são sempre dois, para a emergência de um caos aéreo. Da última vez, li Cidade Aberta, do nigeriano-americano Teju Cole – um belo romance em torno das reflexões de um psiquiatra africano vivendo em Nova York. Na livraria do aeroporto, comprei O sentido de um fim, do inglês Julian Barnes. Não li ainda, mas como tudo que conheço deste autor me agradou, fiz a aposta para a próxima viagem. Há duas semanas, devorei Habitante irreal, de Paulo Scott, que se pode definir classicamente como uma narrativa irresistível sobre a paixão improvável de um branco por uma índia. De outro brasileiro, Michel Laub, terminei numa sala de espera o igualmente irresistível Diário da queda, em torno das lembranças circulares de um velho diário de um sobrevivente de Auschwitz – o que me fez pensar que nossa prosa vive um ótimo renascimento.

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E passo aos livros de cabeceira, os sem-pressa, em geral com mais de 300 páginas, que às vezes salvam minha insônia. Alguns deles vêm atravessando os anos, como a biografia de Dostoiévski, de Joseph Frank. Estou nos chamados "anos milagrosos", quando ele escreveu Crime e Castigo e Os demônios. A questão é que comprei a nova tradução de Os demônios, a primeira direta do russo, e não quero prosseguir a biografia antes de ler de novo este livro que é considerado a mais densa reflexão sobre o nascimento do terror moderno, o momento em que, enfim, tudo passou a ser permitido. Interrompi a biografia para enfrentar as mil páginas de A tragédia de um povo, uma história da Revolução Russa, de Orlando Figes (autor do sensacional Sussurros, sobre o período soviético). Estou no início do século 20, quando a czarina contratou os poderes místicos (e outros mais secretos) do célebre Rasputin, o que fazia do Palácio do Inverno de São Petersburgo uma espécie de Casa da Dinda da dinastia dos Romanov. Deu no que deu, lá e aqui, mas acho que pelo menos desta vez levamos sorte, se a comparação absurda fizesse sentido.

E há os livros de escritório, para ler à tarde, na poltrona, olhando a janela de vez em quando. Desta vez um pesado volume com gravuras primorosas: O declínio da Idade Média, de Johan Huizinga, uma retomada histórica maravilhosa do fim da Idade Média, com ilustrações fantásticas do período. Voltamos 700 anos na vida, e virando a página lemos uma descrição delicada daquele outro mundo: "Assim como o contraste entre o verão e o inverno era mais severo do que para nós, também o era o contraste entre a luz e a escuridão, o silêncio e o ruído. A cidade moderna praticamente desconhece a escuridão e o silêncio profundos, assim como o efeito de um lume solitário ou de uma voz distante". Não é bonito?

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