O guineano Souleymane Bah, de 47 anos, primeiro paciente internado com suspeita de ebola no Brasil, teme a volta para Cascavel, no Oeste do Paraná, por causa das manifestações racistas e xenófobas publicadas em redes sociais. "Ele pediu para a imagem dele ser preservada. Ele tem receio na volta para a comunidade, de sofrer algum tipo de discriminação. Ele ficou sabendo que foi identificado, e das mensagens (nas redes sociais). Na condição de refugiado, isso causa bastante preocupação", afirmou o infectologista José Cerbino, da Fiocruz, que tratou do paciente desde a sua internação no Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, no Rio.
Souleymane soube que a contraprova confirmou o exame negativo para ebola às 16h30 de segunda. "No primeiro resultado negativo o alívio foi maior porque havia essa dúvida maior se era ou não. O segundo resultado é uma confirmação do que a gente já esperava. E foi diferente porque no segundo resultado a gente entrou sem as roupas de proteção, sem aquela paramentação toda e ele percebeu que já havia saído de isolamento. Ele teve uma reação de felicidade", contou Cerbino.
O guineano foi transferido para um quarto comum e circula normalmente pelo hospital. Por telefone, conversou com conterrâneos que estão em Cascavel. Na manhã de ontem [segunda], Souleymane fez novos exames de sangue e passou por tomografia para tentar identificar a causa de sua febre inicial. A pedido do paciente, os médicos não vão divulgar informações sobre a doença, que está sendo investigada. Ele já fez testes rápidos para dengue, malária e HIV. Todos deram negativo.
"Ele tinha problemas de saúde que motivaram a ida dele à unidade de saúde. Os exames que a gente pôde realizar na investigação do ebola mostraram alterações no hemograma. São queixas e alterações que não indicariam internação, mas uma vez ele estando internado a gente vai adiantar investigação para tentar descobrir a doença. Do ponto de vista clínico, ele poderia receber alta hoje [ontem]", disse Cerbino.
Souleymane deve deixar o instituto assim que for resolvida a questão do transporte. O guineano deixou Cascavel num avião da FAB, mas pode voltar em voo comercial. Ele não quer ser filmado nem fotografado na saída do hospital, e pediu discrição aos médicos. Ele também recusou pedidos de entrevista.