O que faz um Estado virar um Império? É a força militar, a tecnologia ou a política? A resposta é: nenhum desses fatores isolado. A potência de um país é medida pela sua capacidade de montar estratégias que o legitimem no poder. É normal lembrarmos da corrida armamentista nuclear; mas em outras épocas, os impérios também se preocupavam em ter um exército bem armado o objetivo acaba sendo o mesmo, mostrar força para os povos mais fortes.
Outro ponto em comum entre o impérios da antiguidade e os atuais é a expansão geográfica, que tem origem na necessidade de evitar conflitos internos. Se não houver terra suficiente para todos, corre-se o risco de motins. "É preciso chegar até a próxima cadeia de montanhas e até o mar, onde se estabelece o controle sobre as margens. Pense em Roma: era uma pequena vila que começa a conquistar o seu entorno, o que permite sua expansão", explica o professor Ricardo Pereira Cabral, mestre em História e um dos coordenadores do livro Impérios na História. Conquistar novos povos, agregar territórios, ter uma boa estratégia econômica, política e manter um alto nível tecnológico são questões comuns que constam nos "manuais dos impérios".
O livro conta, por exemplo, a história do Império Macedônico, que chegou a ser o maior da Antiguidade, mas que não conseguiu manter seu poder com a morte de Alexandre, o Grande. Roma, por outro lado, foi o império mais duradouro e extenso da Antiguidade. "O Império Romano formou um sistema mundial pelo Mediterrâneo, atingindo parte do Atlântico, que fez com que ele conseguisse ter uma integração regional entre as províncias conquistadas e também uma economia mundial integrada", afirma a professora doutora Norma Musco Mendes, do programa de pós-graduação em História Comparada da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Roma chegou ao auge com o imperador Trajano por volta de 107 d.C e viu sua estrutura ser descaracterizada quando os seus vizinhos, os povos germânicos, começaram a se tornar mais poderosos que ela. "Ao invés de passar para um política ofensiva de fronteira, Roma recua e fica na defensiva. Os germânicos conseguem penetrar no território e conquistá-lo", diz Norma.
Dentre os impérios da Idade Média analisados no livro, está o Mongol que chegou a ser o maior do mundo. O historiador Marcio Scalercio, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, trabalha com o tema e lembra que os mongóis foram peculiares pelo fato de terem uma constituição política de um povo nômade, criador de gado. "Eles se unificaram em torno da liderança de Gêngis Kan e, então, conseguiram se reunir com outros povos e partir para a expansão", afirma Scalercio. Ficaram conhecidos como o Império dos Arqueiros Montados justamente pelo sucesso da militarização escolhida na época: eles avançavam pelos territórios com cavalos e um arco feito de vários materiais como chifre, resina, cola animal e couro que tinha uma capacidade de tração tão forte que dava vantagens aos mongóis. Outra característica única dos mongóis era a de que eles estabeleciam a liderança a partir do guerreiro mais talentoso e não como nos povos tradicionais, pela pessoa mais "bem nascida".
Os impérios modernos, como a França e a Inglaterra, apesar de terem vencido a Primeira Guerra Mundial, entraram em processo de decadência no século 20 porque ficaram arruinados economicamente, o que proporcionou uma transferência de poder da Europa para a América.
Os impérios da atualidade, como os Estados Unidos, ganham destaque nas últimas páginas do livro. O que muda dos impérios antigos para os atuais é, principalmente, o seu formato: os Estados Unidos não são uma potência fechada; se constituem, na verdade como uma república imperial. "Eles passam a desafiar as potências que até então eram importantes e conseguem se colocar de forma agressiva no cenário internacional", explica o professor Sidnei Munhoz, da Universidade Estadual de Maringá, também coordenador do livro. Os estadunidenses adotam a política do big stick (grande porrete) e vão manter todo o continente americano sob a força deles aqueles que fogem do interesse dos Estados Unidos têm o território invadido.
A jornalista da Gazeta do Povo Keyse Caldeira, que escreveu um dos artigos do livro junto com a professora Sabrina Medeiros, analisou o poder que os Estados Unidos mantêm sobre a América Latina. A característica imperial aparece em políticas adotadas para tentar reduzir o poder do opositor, que é o presidente Hugo Chávez, da Venezuela. Chávez, juntamente com os presidentes Evo Morales (Bolívia) e Rafael Correa (Equador), formou um grupo que tenta se contrapor ao poderio estadunidense. "É uma oposição um tanto quanto contraditória, porque a própria Venezuela precisa dos Estados Unidos por causa das relações comerciais que envolvem o petróleo. Já a Bolívia depende de uma ajuda de 100 milhões de dólares anuais para combater o narcotráfico", diz Keyse. A jornalista lembra ainda que os Estados Unidos criam um acordo bilateral de livre comércio com outros países que nada mais é do que uma estratégia de isolar os opositores. "Eles conseguiram fechar acordos com o Peru e a Colômbia e o Chávez pede, então, para sair da Comunidade Andina de Nações", explica.
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Serviço
Impérios na História
Editora: Campus/ Elsevier
Quantidade de páginas: 488
Preço sugerido: R$ 125