O líder do governo e presidente estadual do PMDB do Paraná, Dobrandino da Silva (PMDB), voltou a chamar o PT de "quadrilha" ao apresentar, durante discurso na Assembléia Legislativa, três contratos de propaganda firmados pela Itaipu Binacional com agências de publicidade. Classificando como "imorais" as despesas com propaganda, o deputado abriu uma crise política entre o PMDB e o PT, partidos que fazem parte da base de apoio do governador Roberto Requião.
A discussão começou na segunda-feira, quando Dobrandino levantou suspeitas de irregularidades na destinação de verbas de comunicação da usina. O presidente estadual do PT, André Vargas, desafiou Dobrandino a mostrar documentos comprovando as acusações.
As cópias de contratos foram apresentadas nesta terça-feira, durante a sessão. Segundo Dobrandino, a Itaipu assinou três contratos no valor total de R$ 7,1 milhões com as agências Loducca Comunicação e LTDA, de São Paulo, Position Comunicação e Marketing, de Pinhais e L3 Comunicação, de Foz do Iguaçu.
O deputado questionou o valor e os três aditivos que foram feitos aos contratos, totalizando R$ 17 milhões. Dois deles assinados em dezembro de 2004, de R$ 1,7 milhão e R$ 1,4 milhão, e outro documento de R$ 7,1 milhões. "Legalmente não vou discutir, mas a Itaipu não precisa de publicidade para vender energia. Não importa com quem foi feito o contrato, mas são recursos da República. Se não é ilegal, é imoral", afirmou Dobrandino.
O deputado voltou a acusar também o uso político da hidrelétrica na última campanha eleitoral. "Já fiz essa denúncia logo após a eleição. Pela primeira vez a Itaipu se envolveu em campanha política e tomou partido, mas ela não presta contas para ninguém", disse. "Isso estava engasgado na minha garganta".
PT responde
O discurso provocou protestos dos petistas. Tadeu Veneri apresentou uma carta assinada pelo diretor brasileiro da Itaipu, Jorge Samek, negando as denúncias e explicando os contratos. No documento, Samek fala sobre a escolha das empresas e garante que sua participação na campanha política para prefeito de Foz do Iguaçu se restringiu a uma gravação para tevê inserida no horário político de apoio à chapa Paulo Mac Donald (PDT) e Dito Vitorassi (PT). "Não houve nenhum envolvimento de Samek e da Itaipu na campanha", assegurou Veneri ao reproduzir a carta.
O presidente estadual do PT, André Vargas, criticou Dobrandino por não apresentar provas. "Onde está a irregularidade do contrato? A coleta de lixo na gestão do seu filho era a mais cara do país e nem por isso chamei sua família de quadrilha", atacou.
O deputado Ângelo Vanhoni exigiu que as provas, se existirem, sejam encaminhadas ao Ministério Público.
Itaipu responde
A assessoria de imprensa da Itaipu esclareceu que a escolha das três agências de publicidade foi feita através de concorrência pública, em março de 2004, e reuniu 15 empresas. Nenhuma delas pertence ao publicitário Duda Mendonça, como declarou Dobrandino.
A Itaipu confirmou a existência dos contratos e de dois aditivos que somam R$ 3,250 milhões, mas garante que não houve um terceiro aditivo, mas a prorrogação do contrato com as três agências em 24 de março de 2005 em mais R$ 7,1 milhões.
Os gastos de propaganda da Itaipu, segundo a assessoria, foram além do normal em 2004 porque foi feita a divulgação do aniversário de 30 anos da usina. As verbas de publicidade são usadas para elaboração de folhetos que são distribuídos para 780 mil visitantes por ano, eventos no setor elétrico, além de publicações específicas na área técnica. No ano passado, de acordo com a assessoria, foram gastos R$ 6 milhões em propaganda.
Apesar da troca de acusações, o líder do governo, Dobrandino da Silva, não teme perder os votos da bancada do PT nas votações de interesse do Palácio Iguaçu. "Não compromete a relação. O Vargas está brigando com a gente faz tempo".
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