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Força-tarefa

Líder yanomami acusa governo de priorizar apenas uma região na distribuição de recursos

Líder yanomami acusa governo de priorizar apenas uma região na distribuição de recursos
Alberto Brazão Goes, liderança yanomami e ex-presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena (Condisi) (Foto: Geraldo Magela/Agência Senado)

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Com força-tarefa em andamento na Terra Indígena Yanomami desde 20 de janeiro, após decretação de emergência em saúde pública, o governo federal tem anunciado ações para aumentar a distribuição de alimentos e medicamentos e ampliar o atendimento médico aos indígenas. Em paralelo, há ações coordenadas pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) para afastar os garimpeiros da região.

No entanto, há insatisfação por parte dos indígenas, que apontam que há concentração dos serviços de assistência do governo na área indígena de Surucucu, localizada em Roraima, enquanto as demais regiões permanecem em situação semelhante a antes do início da força-tarefa. A morosidade do governo em combater o as facções do crime organizado, como PCC e Comando Vermelho, que comandam ações de garimpo e usam a região para o escoamento de drogas, também é questionada.

Segundos dados do Ministério da Saúde divulgados no sábado (24), 129 indígenas que residem na Terra Yanomami já morreram em 2023; há vários registros de causas de morte evitáveis, como desnutrição, pneumonia e tuberculose. A título de comparação, ao longo de todo o ano de 2022, foram registradas 209 mortes de yanomamis. Em apenas seis meses já houve 62% das mortes contabilizadas no ano passado.

“O número de óbitos que se mantém alto como antes mostra que não está havendo ações de saúde que atendam às necessidades das nossas aldeias”, diz Alberto Brazão Goes, liderança yanomami e ex-presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena (Condisi). “Essa coordenação emergencial deveria ser ampla, nos dois estados, mas estão focando na região de Surucucu. Lá sim, aliviou bastante. Mas os óbitos, principalmente de crianças, continuam subindo porque outras regiões do território continuam esquecidas”, lamenta.

Para o líder yanomami, um dos motivos para a concentração de ações na área de Surucucu – que foi escolhida, por exemplo, para a instalação do Centro de Referência em Saúde Indígena, inaugurado em abril – é que o atual presidente do Condisi Yanomami, Júnior Hekurari, pertence à região.

Hekurari, que também é presidente de uma ONG, foi um dos personagens com maior visibilidade no início do ano, quando a crise na Terra Yanomami foi exposta. O ativista foi um ferrenho apoiador de Lula na campanha presidencial do ano passado e conta com bom trânsito no atual governo.

Apoiador de Lula, Júnior Hekurari compareceu na posse do atual presidente, no dia 1º de janeiro (Reprodução Instagram)

Juíza condena governo a reduzir vulnerabilidade social de indígenas amazonenses

A falta de assistência nas demais localidades da região motivou uma decisão da Justiça Federal, proferida no último dia 19, que determinou que o governo Lula reduza a vulnerabilidade social de indígenas amazonenses que fazem longas jornadas até as cidades em busca de benefícios sociais, em condições de insegurança alimentar e com risco de morte. A juíza ordenou que o governo atue para evitar a fome dos indígenas, garantir a solução imediata das demandas e assegurar apoio logístico nas aldeias.

“O governo explorou esse alarme que houve nas nossas terras, mas ficou no uso político. Na minha comunidade, Maturacá, com mais de três mil yanomamis, faltam medicamentos, faltam profissionais, faltam insumos. Eu, que tenho pele yanomami, fico revoltado. É só manobra para a mídia elevar um governo. Agora até a imprensa esqueceu do assunto”, declara o líder indígena.

Outro lado

A Gazeta do Povo pediu posicionamento ao Ministério da Saúde, que coordena o do Centro de Operações de Emergência (COE) Yanomami, sobre as informações veiculadas nesta matéria. Segue a nota enviada pela pasta na íntegra:

"Diante da crise humanitária de desassistência encontrada no Território Yanomami, o Ministério da Saúde adotou medidas emergenciais para salvar vidas com ações estratégicas dentro e fora do território. Desde a declaração de Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional (Espin), foram realizados mais de 25 mil atendimentos médicos aos indígenas encontrados em grave situação de desassistência na região. Neste período, mais de 132 crianças com quadro de desnutrição tiveram alta e ganho de peso após o protocolo elaborado pelas equipes de nutrição.

O Ministério da Saúde também enviou mais de 200 profissionais da Força Nacional do SUS para atuarem em revezamento de equipe em todo o território e 14 médicos do programa Mais Médicos foram designados para reforçar as equipes nos serviços de saúde.

Em relação a Surucucu, essa região concentra as unidades de saúde que foram fechadas e o maior número de remoções e óbitos nos últimos anos. Por isso, a abordagem escolhida para a região de Surucucu foi a montagem de um Centro de Referência em Saúde Indígena para o atendimento de casos de urgências e tratamento de casos de desnutrição e malária.

Cabe ressaltar que a Sesai realiza ações intensas de atendimentos, remoções, entrega de cestas básicas e medicamentos em todo o território e em diversas regiões, a exemplo de Auaris, Missão Catrimani, Palimiú, Surucucu, Maloca Paapiú, Yarotobi e Marauiá".

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