Rio Quatro líderes comunitários do Complexo do Alemão, na zona norte do Rio, foram barrados ontem à tarde na Secretaria de Segurança. Eles foram levar denúncias de abusos policiais ao secretário, José Mariano Beltrame, que não os recebeu. Segundo os líderes, alguns dos PMs que participam da ocupação das favelas há 24 dias estão cometendo uma série de arbitrariedades: dão tapas nos moradores, utilizam o alto-falante do "caveirão" (carro blindado) para espalhar mensagens de pânico e usam spray de pimenta contra a população.
O encontro de ontem teria ainda a participação do presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa, deputado Alessandro Molon (PT). Molon chegou a conversar com Beltrame, que explicou que não receberia os moradores porque eles faltaram a uma reunião marcada para a quarta-feira (de acordo com os moradores, eles receberam a informação de que o encontro fora cancelado). O secretário prometeu reunir-se com o grupo outro dia.
Frustrados, os representantes, que ficaram no portão do prédio da secretaria à espera de Molon, deixaram claro que não estavam ali para pedir a saída da PM das favelas. "A polícia tem que ficar, mas tem que tratar traficante como traficante e cidadão como cidadão", disse Mário César Ferreira. "A polícia é para investigar e prender, não para agredir e matar."
Operação
Incursões isoladas de veículos blindados da PM, seguidas de tiroteios, marcaram o 24.º dia de operações no conjunto de 17 favelas do Alemão. A situação no local ainda é tensa e diversas barreiras com vigas de ferro e trilhos roubados soldados ao asfalto são vistas nos acessos às favelas. As três últimas vítimas de balas perdidas permanecem internadas no Hospital Getúlio Vargas, na Penha.
"Quando este inferno vai acabar?" perguntava um morador, agachado no momento da chuva de tiros sobre o blindado do Batalhão de Operações Especiais (Bope), que fez uma rápida incursão na favela da Grota. Quarta-feira, na mesma rua Joaquim Queiroz, policiais do 16.º Batalhão de PM foram atacados a tiros quando retiravam um carro Ford KA que foi virado e atravessado com uma viga de ferro pregada ao chão. O objetivo era impedir a entrada dos caveirões.
O Hospital Getúlio Vargas atendeu 81 pessoas vítimas de armas de fogo em maio. Apesar do cenário de guerra e dos 14 mortos, entre policiais, criminosos e moradores, não foram feitas prisões até agora.