Nesses cinco meses de protestos, os noticiários costumam separar os manifestantes entre os "democráticos" e os "vândalos, que se infiltram em passeatas pacíficas para iniciar o quebra-quebra". Trata-se de um engano. A chamada "tática black bloc", que prega ataques ao patrimônio e reação à ofensiva da Polícia Militar nas passeatas, foi fundamental para o sucesso das manifestações de junho convocadas pelo Movimento Passe Livre (MPL).
O esclarecimento sobre o papel decisivo da ação direta e dos black blocs está no livro Vinte Centavos: a Luta contra o Aumento (Veneta), escrito a quatro mãos por Marcelo Pomar, fundador do MPL de Florianópolis, Pablo Ortellado, filósofo, pela socióloga Elena Judensnaider e por Luciana Lima.
Próximos dos integrantes do MPL, os autores tentam explicar na obra como as manifestações de junho nasceram de dez anos de aprendizado acumulados em protestos de ruas, iniciados em 2003 em Salvador. "Não foi um raio em céu azul", escreve Marcelo Pomar, para evitar qualquer conclusão que aponte improviso e espontaneidade nas ações do grupo.
A ação direta e o vandalismo fizeram sentido porque estavam associados a outras estratégias elaboradas pelo MPL ao longo da década. A definição de uma pauta clara, no caso a redução de 20 centavos da tarifa, que dependesse da vontade política do governo para ser atendida, foi uma delas. "Só abandonar as ruas quando a pauta for atendida", era a ideia fixa.
Outra tática era fazer protestos colados, separados por dias, em grandes avenidas, para atrapalhar o cotidiano, desnortear as autoridades e chamar a atenção da imprensa. Deu certo.
Para os jovens do MPL, o processo de luta era tão importante quanto o resultado das manifestações. O objetivo era mostrar as possibilidade de se levar a democracia para as ruas.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.