Cronologia
Veja como caminhou o projeto da Linha Verde nos últimos dez anos:
2001 Um contrato de financiamento com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) é negociado para a implantação da Linha Verde completa, entre os bairros Pinheirinho e Atuba. A estimativa era que a obra custasse R$ 213 milhões. O empréstimo é feito em iene, a moeda japonesa.
2004 Realizada a licitação para execução da obra.
2006 A licitação é cancelada por problemas judiciais. Uma nova licitação é feita e apenas o trecho sul (PinheirinhoJardim Botânico) entra na disputa.
2007 Obras na Linha Verde Sul começam ao preço de R$ 121 milhões.
2010 O trecho sul é finalizado ao custo de R$ 160,9 milhões, devido a aditivos. Inicia-se a obra de implantação da trincheira da Rua Gustavo Rattman, orçado em R$ 9,4 milhões, com recursos do programa BID-Pró Cidades.
2011 Com um empréstimo feito em euro e recursos da Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD), obras no trecho Jardim BotânicoTarumã começam com um orçamento de R$ 51,9 milhões. Elas fazem parte das obras do trecho norte (Jardim BotânicoAtuba), orçado em R$ 160 milhões, recursos que ainda não estão garantidos no todo.
Curitiba já poderia ter quase duas Linhas Verdes prontas. A estimativa inicial para a reforma completa do trecho PinheirinhoAtuba era de R$ 213 milhões, em 2001, época de negociação do primeiro contrato de financiamento do projeto. Hoje, dez anos depois, somando o que já foi gasto e a previsão de quanto ainda será necessário para terminar a obra, a Linha Verde já bate a marca dos R$ 368,2 milhões um aumento de 72% em relação ao que foi estimado inicialmente. E esse valor tende a aumentar ainda mais até a conclusão da obra, prevista para 2013.Quando o financiamento com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) foi feito, há dez anos, os trechos sul e norte estavam cobertos pelo empréstimo. Mas a história desta obra acabou marcada por disputas judiciais nas licitações, flutuação cambial, inflação e inúmeras surpresas que levaram o poder público a fazer aditivos e correr atrás de novos financiamentos.
Recursos da Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD) devem garantir parte das obras do trecho norte, mas o dinheiro para a finalização da Linha Verde ainda é incerto. Além de o empréstimo não ser suficiente para todo o custo orçado do segundo trecho, o fenômeno experimentado no trecho sul a desvalorização da moeda emprestada pode se repetir. A previsão é do economista e professor de finanças da Universidade Federal do Paraná (UFPR) José Guilherme Silva Vieira.
Segundo ele, no primeiro trecho, foi justificável o que ocorreu, pois não havia como se prever a série de crises que ocorreriam. Agora, diz Vieira, a situação é diferente. "A perspectiva é de valorização do nosso câmbio e o euro [moeda do novo empréstimo] está sob o risco de explosão, então, é previsível o encarecimento da obra."
Culpa da inflação
O economista, mestre em desenvolvimento econômico e professor da Universidade Positivo Wilhelm Eduard Milward Meiners defende que o principal vilão do encarecimento é a inflação, medida a partir do Índice Nacional da Construção Civil (INCC). O indicador, que subiu 128% entre 2001 e 2011, corrige a tabela de preços de obras, inclusive de licitações já feitas. "Se fosse aplicar esse reajuste direto ao valor original de R$ 213 milhões, hoje ele corresponderia a R$ 485 milhões. Como o pagamento não é feito tudo de uma vez, mas aos poucos, esse aumento para R$ 368,2 milhões está dentro da normalidade."
O peso do câmbio desfavorável e de uma inflação acumulada em dez anos poderia ter sido aliviado se a obra tivesse sido feita de uma só vez. Dividindo-a em vários trechos, como foi feito, aumenta-se o número de licitações e, consequentemente, o tempo gasto para sua execução, deixando o projeto ainda mais a mercê de flutuações do mercado. "Três licitações são mais caras que uma. Além disso, em cada trecho licitado e em cada fase há contestação na Justiça. Gastam-se anos só licitando", diz Vieira.
Mal necessário
O presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento de Curitiba (Ippuc), Cléver Teixeira de Almeida, afirma que a divisão por trechos foi necessária, sob pena de dificultar ainda mais a mobilidade na cidade se as obras iniciassem ao mesmo tempo em toda a extensão da Linha Verde. Na semana passada, o prefeito Luciano Ducci assinou a ordem de serviço para o início da primeira fase da Linha Verde Norte um pedaço de 2,3 quilômetros, entre o Jardim Botânico e o Tarumã, ao custo de R$ 51,9 milhões. E assim, aos pedaços, as obras da Linha Verde prosseguem.
O peso dos aditivos no trecho sul
Flutuação cambial, inflação e a divisão da obra em vários trechos não foram os únicos responsáveis pelo encarecimento da Linha Verde. O trecho sul foi licitado por R$ 121 milhões, mas com os aditivos feitos durante as obras o custo final chegou a R$ 160,9 milhões. De acordo com o coordenador da unidade de gerenciamento do programa (UGP) da prefeitura, Edson Seidel, os aditivos são relacionados a eventos que não estavam previstos.
Segundo o economista, mestre em crescimento e desenvolvimento econômico e professor da Universidade Positivo Wilhelm Eduard Milward Meiners, a necessidade de verba extra durante a execução de obras públicas é comum. "Já acompanhei obras mais simples e vi como esses aditivos são necessários", diz ele, que é ex-diretor técnico da Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec).
De acordo com Seidel, durante a execução, vários problemas surgiram: a necessidade de obras extras no viaduto da Avenida Marechal Floriano; a detecção de um solo ruim de trabalhar, por vezes, pior do que havia sido detectado nas avaliações preliminares; o mau tempo; interferências no solo que não eram imaginadas; proprietários reclamando terreno na Justiça; e até uma pista antiga de pedra encontrada nas escavações para construção da trincheira da Rua Gustavo Rattman. "Nós imaginávamos colocar cinco tirantes [para escorar a parede da trincheira] por semana, mas conseguimos colocar um por mês por causa dessa estrada de pedra", explica Seidel.
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