O trecho norte da Linha Verde (BR-476), em Curitiba, registrou o maior número de acidentes em estradas federais do Paraná no primeiro semestre deste ano. Segundo dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF) foram 635 ocorrências em 20 quilômetros de extensão entre os bairros Jardim Botânico e Atuba. Em toda a malha federal do estado cerca de quatro quilômetros houve 11.379 colisões no mesmo período.A estatística comprova ainda o que todo policial rodoviário vê diariamente nas estradas: os trechos em perímetros urbanos são os mais perigosos para trafegar. Cinco dos dez pontos com maior número de acidentes estão em trechos urbanizados. Quando se analisa apenas o número de mortes, essa tendência fica mais evidente. Oito dos dez pontos com mais óbitos por acidentes ou atropelamentos ficam dentro de cidades.
O trecho da Linha Verde que aparece na liderança do ranking da PRF é justamente o que ainda não recebeu melhorias. Ontem, a prefeitura deu início às obras da primeira fase de revitalização da rodovia. Serão investidos R$ 52 milhões, com recursos do município e da Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD), na reforma de 2,3 quilômetros entre o Jardim Botânico e o Tarumã.
O chefe de Comunicação Social da PRF no Paraná, Wilson Martines, afirma que, apesar do número expressivo em 2011, o índice de acidentes na Linha Verde ficou abaixo do registrado no mesmo período do ano passado. Em 2010, foram 674 colisões. A queda nos números, segundo ele, é uma tendência.
O mesmo levantamento da PRF mostra que houve uma pequena redução no índice de mortes. Na comparação com o primeiro semestre de 2010, o número caiu de 416 para 408 (queda de quase 2%). Já o registro de acidentes cresceu 9%, passando de 10.444 para 11.379. Apesar da alta nas ocorrências, a PRF vê os números com otimismo porque até o ano passado era responsável por 3,5 mil quilômetros de rodovias contra 4 mil neste ano.
Tragédia
A ex-educadora infantil Rose Mari Carriel de Lima, 46 anos, sente uma tristeza profunda cada vez que lembra da Linha Verde. Há dois anos e meio, ela perdeu o filho mais velho, Robson Eduardo Carriel de Lima, 21 anos, em um acidente no trecho da BR-476 próximo ao bairro Guabirotuba. Acompanhado de outros quatro amigos, o jovem voltava de uma festa, de madrugada, quando o acidente aconteceu. "Era aniversário dele", conta Rose.
O rapaz estava sentando no banco do passageiro quando o condutor do veículo, um Chevette, perdeu o controle. "O carro saiu voando e capotou sobre a Linha Verde", diz. Depois do acidente, Rose Mari parou de trabalhar devido à angústia pela morte trágica do filho. Hoje ela faz parte do Instituto Paz no Trânsito, uma ONG que dá apoio às famílias de vítimas da violência no trânsito.
Para que acidentes como o que levou a vida de Robson não se repitam, especialistas recomendam mais atenção e prudência no trânsito. José Mário de Andrade, diretor de negócios internacionais da Perkons (empresa que fabrica equipamentos de fiscalização eletrônica), afirma que o problema nos trechos urbanos das rodovias está na inversão da realidade.
Andrade explica que, quando está no perímetro urbano, o motorista continua achando que está na rodovia. Por outro lado, o morador acha que a estrada é uma rua normal. "É preciso que os dois lados entendam o que é a rodovia. O motorista precisa diminuir a velocidade, prestar mais atenção. Da mesma forma, o morador precisa se conscientizar", diz.
Segundo o diretor da Perkons, a fiscalização e a sinalização são maneiras de forçar o condutor a diminuir a velocidade nos trechos urbanizados. "Se todos respeitassem a sinalização, provavelmente os números de acidentes diminuiriam muito, mas muito", afirma.
Para o engenheiro André Caon, coordenador do Fórum Social de Mobilidade Urbana, o ideal seria a retirada das rodovias de centros urbanos, como Curitiba, Londrina e Cascavel. "Caso não seja possível, é necessário reduzir ao máximo a velocidade dos veículos, com semáforos e radares, e aumentar a mobilidade dos pedestres, com passarelas", defende.
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Interatividade
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