Foz do Iguaçu - A Associação de Preservação da Cultura Cigana está há quase um ano tentando convencer a Secretaria de Estado da Educação (Seed) a recolher das bibliotecas da rede estadual de ensino 3 mil exemplares do livro O Caboclo e a Cigana, de Assis Brasil. A batalha judicial que começou na 3.ª Vara de Fazenda Pública de Curitiba deve ter novos episódios em cortes superiores. Na ação indenizatória, a entidade sustenta que, ao recomendar e ofertar o romance aos alunos do Ensino Médio, o governo do estado estaria estimulando o racismo e o preconceito.
O presidente da associação, Cláudio Iovanovitchi, defende que desqualificar e criar mitos em torno de uma cultura, de uma nacionalidade ou de uma raça é uma forma cruel de discriminação. "A melhor forma de se aniquilar um povo é atingindo a sua cultura. E, ao adotar livros com conteúdo discriminatório, o governo do Paraná está fazendo isso com maestria", aponta. Somente na capital, vivem cerca de 300 ciganos. No Brasil, outros 600 mil, entre nômades e fixos.
Os ciganos criticam a forma como a cultura é abordada no livro. Um dos trechos diz que os ciganos são ladrões, desordeiros assassinos e que a criança cigana aprende a roubar antes mesmo de lhe nascer os dentes. "Essa imagem negativa incutida no imaginário das pessoas está sendo reforçada na escola, ambiente em que deveria ser trabalhado o respeito à diversidade", aponta. Segundo a advogada Najara Heidmann, enquanto a defesa do Estado se baseia no direito à liberdade e à pluralidade de expressão, a não discriminação e a dignidade da pessoa humana também são direitos fundamentais previstos na Constituição.
Diversidade
A chefe do Departamento de Educação Básica da Seed, Mary Lane Hutner, lembra que todas as 266 obras adotadas pela rede estadual de ensino foram analisadas e receberam o aval de especialistas. "A população brasileira é composta por uma variedade enorme de etnias. O livro trata de duas delas, que na narrativa se divergem", disse, ao adiantar que os livros não serão recolhidos e que cabe a cada escola definir seu plano pedagógico e os materiais de suporte.
Mary Lane defende que obras como esta devem ser usadas para trazer à tona discussões em torno de várias realidades dentro de uma perspectiva sempre de valorização da diversidade. A professora de literatura Vivian Acosta Borba concorda. Ela indicou o livro para uma das suas turmas e disse ter explorado em sala de aula justamente o preconceito. "Os alunos apontaram vários outros casos de discriminação racial, as causas e consequências desse tipo de postura."