Os textos mais criticados
Os livros didáticos mais criticados hoje são os da coleção Nova História Crítica, escrito por Mario Schmidt, que depois de usado por 10 anos e lido por mais de 20 milhões de estudantes no país foram rejeitado pelo Ministério da Educação por veicular propaganda ideológica. Outros livros, no entanto, estão sendo igualmente questionados por trazer conteúdo ideologizado. Alguns deles são A nova geografia, de Demétrio Magnoli e Regina Araújo, e Brasil: sociedade e espaço, do professor-doutor José William Vesentini.
Em Minas Gerais, a Federação Israelita de Minas Gerais (Fiemig) diz ter encontrado antijudaismo e propaganda anti-israelense em livros do ensino médio usados em escolas particulares. O material teria sido encontrado nos livros História Moderna e Contemporânea, de Alceu L. Pazzinato e Maria Helena V. Senise, e novamente em Nova História Crítica, de Mario Schmidt.
O esporte e a alienação
No capítulo três da disciplina de Educação Física, o livro didático público recorre ao esporte e à televisão para afirmar que ambos, quando associados, sofrem influência do sistema capitalista para explorar e dominar as massas, impondo suas idéias políticas e filosóficas. Seriam valores úteis ao capitalismo o respeito às regras, a derrota como aprendizado, a competição, a premiação unicamente ao vencedor.
Não há apologia ao comunismo, diz governo
A Secretaria de Estado da Educação sustenta que "em nenhum momento há elegia ao comunismo" no Livro Didático Público, cujo conteúdo foi produzido pelos professores da rede pública. Os textos foram selecionados a partir de experiências práticas e teóricas. Segundo o técnico pedagógico do Departamento de Ensino Básico, Mário Cerdeira Fidalgo, há uma sugestão de pesquisa na qual os alunos devem se informar sobre os sistemas capitalista, socialista e comunista, refletindo sobre o porquê do capitalismo dominar o cenário mundial.
O Brasil está passando por um sutil revisionismo histórico adotado à revelia por autores de livros didáticos. Pais e estudiosos do assunto têm questionado o conteúdo político-ideológico de algumas publicações usadas nas escolas públicas e particulares. Textos com teor altamente ideologizado foram identificados nas últimas semanas em publicações distribuídas aos milhares pelo Ministério da Educação em todo o país, ou em casos de livros didáticos de História e Geografia em Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro (leia mais nesta página). No Paraná, a polêmica chegou, quem diria, à disciplina de Educação Física.
"O texto é declaradamente marxista, um emaranhado de sofismas, tendencioso do começo ao fim". A constatação é do advogado Miguel Nagib diante do Livro Didático Público da rede pública de ensino paranaense. Para ele, que coordena a associação Escola sem Partido, grupo independente sem vínculo político, ideológico ou partidário, o livro tenta transmitir a idéia de que o esporte é fundamentalmente um instrumento usado pela classe dominante para "explorar e dominar as massas, com o intuito de impor idéias, tanto políticas quanto filosóficas, sobre os modos de produção e principalmente de consumo".
"A prática esportiva é secundária, o que importa é fazer a revolução gramsciana", diz referindo-se ao filósofo e cientista político italiano Antonio Gramsci (1891-1937). O texto do livro fala mal do capitalismo a partir de critérios abstratos e preconceituosos. Se falasse também do comunismo, os alunos poderiam ao menos comparar os dois regimes. "Nesse sentido é uma obra irresponsável e leviana, sem nenhum compromisso com a verdade histórica e a objetividade científica", opina Nagib. Para ele, além de cercear a liberdade de aprender, esse tipo de material deforma a visão do estudante sobre a realidade.
O risco à formação intelectual dos jovens submetidos a uma abordagem ideologizada é a ignorância. "O problema é que, como essa visão é compartilhada pelo grupo e mais tarde será corroborada por outros professores militantes inclusive no vestibular ideologicamente contaminado, como mostrou a edição de 10/09 do Caderno Vestibular da Gazeta do Povo , o estudante passa a acreditar e a viver numa realidade paralela", pontua Nagib.
Ao falar da "potencialidade transformadora" do ensino da Educação Física, o autor deixa claro que pretende usar a disciplina para fazer dos alunos "agentes de transformação social". A técnica usada para levar os alunos a exercer o chamado "pensamento crítico" que nunca é crítico em relação às atrocidades cometidas nos regimes comunistas não é a da demonstração racional, mas a da insinuação maldosa. "O texto é repleto de perguntas retóricas, suspeitas, que induzem o estudante a fazer uma determinada abordagem do problema."
O julgamento é feito a partir de critérios idealizados. "Mas se você comparar o capitalismo real com outros regimes reais, que existem ou existiram como o comunismo e o nazismo, por exemplo vai concluir que não é tão mau assim", acredita Nagib. O mesmo vale, diz ele, para outros alvos da crítica esquerdista, como os Estados Unidos e a Igreja Católica. E lança um incômodo desafio: "Compare, por exemplo, o imperialismo americano com o imperialismo soviético e me diga sob qual desses dois jugos você preferiria viver ou ter vivido".
Nagib acredita que com o tempo a maioria dos alunos "guiada pelo bom-senso e educada pela experiência" acaba se livrando dessa visão parcial, mas uma boa parte vai carregar essa visão para o túmulo. Ele identifica a insistência do autor em obter a adesão dos alunos, mediante a repetição de perguntas retóricas ao longo do texto. Uma vez prestada essa adesão pelo aluno, aumenta muito o custo psicológico de uma retratação, por mais elementos que ele encontre para fazer isto. "O orgulho intelectual é uma força poderosa e os militantes sabem disso".
O vice-reitor do Centro Universitário Positivo (UnicenP), José Pio Martins, observa que os regimes livres aceitam e toleram que a liberdade seja usada mesmo por aqueles que não acreditam neles. "Liberdade é, por definição, o direito de discordar. Todavia, ainda que qualquer cidadão ou qualquer governante seja contra a liberdade política e econômica, isso não lhe confere o direito de usar dinheiro público para tentar doutrinar crianças e adolescentes nas escolas a favor da sua ideologia."
Pio lembra que o compromisso da escola pública, sustentada com dinheiro de quem paga tributo e pertence a todas as religiões e ideologias, deve ser com os valores universais da ética, do saber, da ciência, da cultura, do desenvolvimento moral e do crescimento intelectual. "Quando um professor, um diretor de escola ou um governante resolve que usará o dinheiro da sociedade para impor a sua ideologia, está tentando impor, de forma arrogante e desonesta, a sua visão de mundo, como se fora dono de alguma verdade absoluta."
O ideal de um governo seria dizer que há visões diferentes sobre um mesmo tema, explicar as visões conflitantes, e alertar aos alunos para que estudem, reflitam e, de forma livre e soberana, decidam suas crenças e seu caminho. "Parece que, para muitos governantes e educadores, o muro de Berlim ainda não caiu e, para eles, as vítimas do comunismo ainda não derrubaram esses regimes totalitários."
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