Grande parte dos pequenos municípios do Paraná não dá a destinação correta ao lixo doméstico e industrial. Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), uma das principais formas que moradores e empresas encontram para se livrar dos resíduos sólidos e orgânicos ainda é a queima. Em mais de 330 mil domicílios do estado, o lixo é queimado em terrenos. Em outras 101.412 residências o lixo é enterrado, depositado em terrenos baldios ou ainda jogado em rios, lagos ou no mar. Em Mato Rico, cidade com 4.390 habitantes na região central do estado, 73% dos domicílios queimam o lixo doméstico a céu aberto. Em Nova Tebas, também na região central, são 60%, e em Agudos do Sul, na região metropolitana de Curitiba, 54%.
A queima do lixo é considerada crime. A pena é uma multa que varia de R$ 500 a R$ 50 milhões. Como explica o engenheiro sanitarista e consultor ambiental Nicolau Obladen, a prática compromete a qualidade do ar, aumenta a emissão de gases do efeito estufa e prejudica a saúde. "Muitas embalagens descartadas por nós, como os plásticos, são tóxicos e emitem vários gases poluentes", explica. "Além disso, a queimada não consegue eliminar todos os resíduos. Latas e vidros, por exemplo, não se decompõem. Esses materiais continuarão expostos, poluindo o ambiente". Outro perigo é o fogo se espalhar com o vento e causar incêndios.
O engenheiro lembra, entretanto, que pior do que queimar o lixo é deixá-lo exposto ao ar livre. De acordo com o Instituto Ambiental do Paraná (IAP), embora o estado esteja na primeira posição do ranking brasileiro em número de aterros sanitários, 100 dos 399 municípios ainda não contam com locais adequados. As cidades de Ventania e Sengés, ambas no Norte Pioneiro, ainda usam lixões. "O chorume liberado contamina o solo e os rios, comprometendo a qualidade daquilo que bebemos e comemos e contribuindo com a proliferação de doenças, sem falar na poluição visual".
Plano
A destinação correta do lixo é um dos quatro pilares do saneamento básico, que ainda envolve tratamento de esgoto, abastecimento de água e drenagem urbana. A lei 11.445/07 determina que os municípios tenham projetos que englobem todos os aspectos do saneamento. "Se o descarte inadequado do lixo e do esgoto comprometem a drenagem da água das chuvas e a qualidade da água que consumimos, logo, não há mais como tratar estes pilares separadamente", diz Obladen.
O problema é que a maioria das cidades brasileiras, inclusive as paranaenses, não possuem planos de saneamento. A informação é do especialista em infraestrutura da Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental Alexandre Goldeiro, que está em Curitiba para participar do seminário "Saneamento, o Desafio de Nossos Tempos". O objetivo do evento promovido pela seção paranaense da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes) é mobilizar e capacitar os municípios do estado a elaborarem seus próprios projetos. Segundo Goldeiro, a falta de recursos não será um problema enfrentado pelas prefeituras. "Já existem vários canais de financiamento de fácil acesso sendo criados para suportar a demanda. O maior desafio será cumprir os requisitos legais e administrativos propostos pelo plano nacional que envolvem, por exemplo, o diagnóstico da bacia hidrográfica da região e a identificação das condições atuais de saneamento."
Serviço:
Seminário "Saneamento, o Desafio de Nossos Tempos", hoje às 8 horas noAuditório Caio Amaral Gruber no Cietep-Fiep Av. Comendador Franco, 1.341. Informações pelo fone (41) 3229-1535 ou pelo site www.abes-pr.org.br.