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Destinar resíduos para serem queimados em fornos usados na fabricação de cimento é uma alternativa interessante para evitar que volumes enormes de lixo sejam destinados a aterros. Um exemplo vem de Rio Branco do Sul, na região metropolitana de Curitiba.

A cimenteira foi a primeira do grupo Votorantim a realizar o coprocessamento. Atualmente, 30% do que é queimado para a produção de cimento é lixo – são 600 toneladas por dia. A meta é chegar a 50%.

O primeiro material incorporado foram pneus inservíveis, usados na queima desde 1991. Como são altamente combustíveis, interessam muito à cimenteira. Toda vez que um produto com alto poder calorífico entra no processo de queima, menos coque de petróleo precisa ser usado para produzir o cimento. A compra de combustível consome um terço das despesas da fábrica.

Riscos

A incineração de lixo, em geral, encontra resistência. É um processo caro, que muitas vezes usa materiais que poderiam ser reciclados e há riscos de danos ambientais. Sem controle da emissão de gases, a queima pode ser um péssimo negócio. Seria transferir o problema de um lugar para o outro – muitas vezes com agravantes. Por exemplo, um composto tóxico com potencial de contaminar o solo, quando queimado, pode espalhar o produto no ar, sem possibilidade de contenção.

Mas se engana quem pensa que é só mandar qualquer lixo para a fábrica. Os materiais passam por análise antes para verificar que adequação ao processo de produção do cimento será necessária para cada material usado.

O gerente de combustíveis e matérias-primas alternativas, Bruno Marin, explica que a prioridade é a qualidade do cimento, assim, resíduos que não permitam uma consistência homogênea e o controle total no processo produtivo não podem ser usados. O material acaba se incorporando ao cimento, graças às altas temperaturas (na casa de 1,4 mil° C), formando uma liga que não pode mais ser separada.

É preciso retirar a umidade, triturar e peneirar. Em geral, os chamados triturados têm a metade do poder calorífico do petróleo. Materiais radioativos e hospitalares estão entre os que não podem ser usados. Até mesmo restos de borra de óleo de tanques podem ser encaminhados para cimenteira.

Chocolate e cocaína

A empresa já fez algumas queimas inusitadas. Uma carga de chocolate e também uma apreensão gigantesca de cocaína, que precisa ser realizada rapidamente, com total controle e com um enorme aparato policial fiscalizando tudo.

Muito do que é queimado na cimenteira veio diretamente da indústria. São produtos que apresentaram algum problema na fabricação. Antes de serem queimados, são descaracterizados – as marcas são apagadas. É uma forma de não caírem num mercado paralelo. Para o fabricante, é a certeza de que materiais com defeitos não serão associados à imagem da empresa e uma forma de evitar que sejam destinados a aterros industriais, onde ocupariam espaço.

As empresas pagam para que os resíduos sejam queimados e a fábrica emite certificados sobre a destinação dos materiais. Ou seja, a cimenteira deixa de gastar com combustíveis e ainda tem uma nova fonte de receita. Contudo, várias obras e adaptações na planta fabril são necessárias. Mesmo com a necessidade de investimentos, a iniciativa costuma compensar financeiramente.

A meta da Votorantim é que todas as fábricas ao redor do mundo trabalhem com ao menos 30% de coprocessamento até 2030, reduzindo a dependência de petróleo. Para o Brasil, a pretensão é 40% até 2020.

Outras cimenteiras da região também realizam coprocessamento. É o caso da Itambé, em Balsa Nova. A fábrica da Volkswagen em São José dos Pinhais, por exemplo, encaminha 15 toneladas do lodo, gerado a partir do tratamento do esgoto sanitário e industrial, para a indústria de cimento. Dessa forma, foi possível reduzir em 80% a quantidade destinada para aterros.

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