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Reforma tributária - Governo estuda mudar cobranças

O governo estuda a possibilidade de aproveitar a próxima proposta de reforma tributária que enviará ao Congresso em agosto para mudar a forma de cobrança das contribuições destinadas às entidades privadas de serviço social autônomo e formação profissional, o chamado Sistema S. Técnicos do Ministério da Fazenda informaram à reportagem que uma das alternativas é afastar o INSS do papel de intermediário da cobrança e, ao mesmo tempo, trocar a base de incidência do tributo – da folha de pagamento para o faturamento.

No caso da retirada do INSS da cobrança, os líderes das federações empresariais até vêem com bons olhos a proposta, uma vez que isso lhes daria total controle sobre as verbas. Mas se, em troca, eles tiverem de abrir mão da compulsoriedade das contribuições ou aceitar uma nova base de cobrança, por fora da folha, a polêmica é grande.

"É só uma discussão. Não formulamos ainda nenhuma proposta", diz uma fonte do Ministério da Fazenda. "Mas não tem sentido que essas contribuições sejam compulsórias e incidam sobre a folha."

A proposta de desonerar a folha salarial na esfera previdenciária chegou a ser aprovada na reforma tributária de 2003, mas ainda depende de regulamentação.

Brasília – Um poderoso lobby das federações empresariais no Congresso Nacional conseguiu barrar na semana passada a tentativa de alguns parlamentares de fiscalizar os gastos do chamado Sistema S, que são financiados com recursos tributários. A proposta de que as contribuições compulsórias destinadas às entidades privadas que prestam serviço social autônomo, como Sebrae, Senai e Senac, circulassem por dentro do Orçamento da União foi apresentada por parlamentares do PT e chegou a entrar no texto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), mas sucumbiu às pressões políticas.

Nem mesmo o artigo que obrigava as entidades a publicar na internet um relatório genérico sobre seus gastos – "por finalidade e região geográfica" – resistiu ao lobby, apesar dos esforços dos técnicos da Comissão Mista de Orçamento em convencer o relator, deputado João Leão (PP-BA), a criar algum instrumento de transparência.

Nos últimos 12 anos, as entidades privadas do Sistema S já receberam R$ 49,5 bilhões da Previdência, a título de repasse da contribuição "de interesse das categorias profissionais ou econômicas". Na prática, a arrecadação das entidades é maior do que essa cifra, mas nem governo, nem Tribunal de Contas da União (TCU), responsável pela fiscalização, sabem ao certo quanto é recolhido diretamente nas empresas, sem passar pelo INSS.

A última estimativa feita pelos técnicos do TCU, de 1997, indicava que 4.500 grandes indústrias contribuíam diretamente ao Sesi/Senai e isso representava 60% do total da receita da entidade. Por ano, essa diferença chega hoje a cerca de R$ 1,8 bilhão, valor que não está sendo computado nas estimativas oficiais da carga tributária, seja pela Secretaria da Receita Federal, seja pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A contribuição destinada pela Constituição ao Sistema S chega a até 3,5% da folha salarial das empresas e, apesar de ser gerido em sua maior parte por entidades privadas, é classificado como um tributo.

Se o valor total arrecadado é desconhecido pelas autoridades federais, o destino do dinheiro é ainda mais misterioso, pois não é registrado no Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi) como outros gastos públicos da União. Nos últimos anos, o TCU tem feito dezenas de auditorias para apurar denúncias de desvio ou má aplicação desses recursos, mas os processos são polêmicos, as informações são fornecidas a conta-gotas e as conclusões às vezes ocorrem apenas 10 anos mais tarde.

Em alguns casos, como o do ex-senador e ex-presidente da Federação das Indústrias do Paraná José Carlos Gomes Carvalho, acusado de desviar R$ 36 milhões do Sesi/Senai entre 1996 e 2003 as irregularidades só vieram à tona depois de sua morte e de ele ter transferido todos os bens aos herdeiros. O Ministério Público está há quase três anos tentando sem sucesso recuperar o dinheiro.

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