No último domingo (19), o traficante argentino Ibar Pérez Corradi – apontado como operador de “El Chapo” Guzmán – foi detido em um apartamento no Centro de Foz do Iguaçu. Apesar da prisão do suspeito, que era caçado pela Interpol, a ação de megatraficantes no Paraná está longe de ser uma novidade. Nos últimos anos, outros criminosos de renome nacional ou internacional se mantiveram no estado – e acabaram presos.
O caso de maior repercussão é a prisão do colombiano Juan Carlos Ramirez-Abadia, ocorrida em 2007, em uma casa em São Paulo. Toda a investigação foi conduzida sob a liderança do departamento paranaense da Polícia Federal (PF). Abadia mantinha uma mansão em Curitiba e Foz do Iguaçu, e operava no Paraná, usando identidades falsas. Ele era procurado internacionalmente por ter mandado mais de mil toneladas de cocaína aos Estados Unidos e respondia por mais de 300 homicídios.
“Foi uma investigação que durou mais de três anos. Por causa da prisão, a PF recebeu uma recompensa de US$ 5 milhões do governo norte-americano, em forma de convênios. O dinheiro foi todo investido na infraestrutura da PF”, lembra o delegado Fernando Francischini, que coordenou a operação e o hoje é deputado federal.
Para policiais, o fato de o Paraná fazer fronteira com o Paraguai colocou o estado em uma das principais rotas de tráfico internacional. É por aqui que, principalmente maconha, cocaína e crack entram, antes de serem distribuídos a outros estados – e outros países, no caso da cocaína. Este fato fez com que megatraficantes mantivessem negócios ou operadores a partir do Paraná.
“Tem essa relativa fragilidade da nossa fronteira. Além disso, nossas cidades da região, como Foz do Iguaçu e Medianeira, têm mais estrutura que as pequenas cidades fronteiriças do Mato Grosso do Sul. Então, esses grandes traficantes acabam optando por se fixar no nosso estado”, disse o delegado Riad Braga Fahrat, do Departamento de Narcóticos (Denarc), da Polícia Civil.
Dificuldades
Uma das maiores dificuldades de a polícia chegar aos grandes traficantes é a estrutura que o narcotráfico internacional adquiriu. Quanto mais alto na hierarquia, o operador tem menos contato direto com a droga. A rede envolve pequenos atravessadores, ligados a um “código de conduta” que faz com que, quando presos, não entreguem o esquema.
“Você nunca vai encontrar a droga com o grande traficante. Não tem bobo neste negócio. Ele se cerca de cuidados, não trata pessoalmente do comércio. Ele se protege desta forma”, aponta Riad.
Outro ponto é que os megatraficantes recorrem à lavagem de dinheiro para ocultar a origem ilegal do que ganham com a venda de drogas. Por todos estes aspectos, os especialistas destacam a importância da inteligência policial na investigação e combate ao tráfico internacional.
“No caso do Abadia, por exemplo, nós tivemos cinco policiais fixos no caso por três anos e 15, na fase final. Nós usamos mecanismos de investigação que nos possibilitaram localizar patrimônio dele em cinco países. Ele teve US$ 1 bilhão bloqueados, entre dinheiro, hotéis cinco estrelas, helicópteros, jatos, carros”, apontou Francischini.
Outros casos
O “Mexicano” do Cartel Juarez
Em 2006, a PF prendeu o Ernesto Plascência San Vicente, o “Mexicano”. Ele morava em uma casa no bairro Hauer, em Curitiba, e era apontado como membro do Cartel Juarez, considerada, então, a maior organização criminosa do México. O grupo teria traficado toneladas de cocaína aos Estados Unidos, arrecadando US$ 200 milhões por mês.
O “Fernandinho Beira-Mar do Paraná”
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Em 2010, a PF desarticulou a quadrilha liderada por Éder de Souza Conde, considerado o “Fernandinho Beira-Mar do Paraná”. Segundo as investigações, o acusado distribuía 100 quilos de cocaína a cada três meses, com lucro anual de R$ 6 milhões. O traficante tinha uma rotina de luxo: morava em uma mansão, mantinha carros importados e namorava uma modelo (que também foi presa). Na casa que servia como “quartel-general” ao grupo, a PF encontrou uma arsenal escondido em paredes falsas, que incluía fuzis e farta munição.
Quadrilha internacional do interior
Uma quadrilha internacional sedeada no interior do Paraná foi presa em 2014. O líder do grupo foi identificado como Tony Boiada, um pecuarista que tinha imóveis em Londrina e Umuarama. Na ocasião, foram apreendidos um helicóptero, uma Mercedez-Bens e um Volkswagem Jetta. Em Umuarama, Boiada construiu uma mansão com o dinheiro obtido no tráfico, segundo as investigações. Foram bloqueados 43 imóveis, entre eles, sete fazendas e quatro sítios, todos avaliados em R$ 60 milhões.
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