Londrina, no Norte do estado, pode perder uma locomotiva histórica de 110 anos, que seria enviada para restauro e usada em passeios na região de Curitiba. Pouco conhecido, o equipamento degrada-se no tempo desde 1998, quando foi instalado em frente ao Pronto Atendimento Infantil (PAI).
A máquina, uma manobreira à vapor La Meuse, número 101, fabricada na Bélgica era usada para engatar e desengatar trens. Ela foi requisitada formalmente pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) à prefeitura de Londrina.
A comunicação sobre o “sequestro” do equipamento está publicada no Diário Oficial da União. No documento, o Iphan informa que a locomotiva já foi cedida para a Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF). O compromisso, segundo o Iphan, é que a peça histórica seja recuperada e colocada para rodar, provavelmente em algum dos passeios históricos em Curitiba.
Recuperar locomotiva custaria pelo menos R$ 150 mil
Um estudo do Ministério dos Transportes, que avaliou todo o patrimônio da antiga rede ferroviária federal – extinta formalmente em 2007 – calculou que para recuperar a locomotiva e retirá-la de Londrina seriam necessários investimentos de mais de R$ 150 mil. Inicialmente, a ideia é que ela fizesse parte do acervo do futuro Museu Nacional Ferroviário, no papel. No entanto, o Iphan decidiu firmar acordos com a Associação Brasileira de Preservação Ferroviária e ceder a máquina para que ela operasse novamente.
O equipamento está deteriorado, enferrujado e cheio de marcas de vandalismo. Em meio aos rabiscos de nomes dos “visitantes”, está a logo da Rede Viária Paraná-Santa Catarina (RVPSC), a quem pertencia a máquina.
“Não gostaríamos de perder essa peça e faremos o possível para que fique em Londrina”, afirma a secretária de Cultura da cidade, Solange Batigliana, dizendo-se surpresa com a intenção de retirada. De acordo com a secretária, a ideia era transportá-la para dentro do Museu Padre Carlos Weiss, sob gestão da Universidade Estadual de Londrina (UEL), onde ficaria junto com a máquina Baldwin à vapor, restaurada.
Sem volta
“Não é justo retirar locomotiva de Londrina”, avalia associação
A Associação dos Amigos do Museu Padre Carlos Weiss também avaliou como inadequada a tentativa de retirar a locomotiva de Londrina. “Não é justo. Os ferroviários têm importância histórica para Londrina e a máquina não deveria sair daqui”, sustenta Anísio Ribas Bueno, presidente da associação.
Segundo ele, a intenção, de fato, é colocar a locomotiva ao lado da Baldwin já existente no Museu. “Ficaria perfeito e comporia o parque ferroviário”, diz. No entanto, reconhece que em frente ao Pronto Atendimento Infantil o objeto fica descaracterizado e sujeito à degradação permanente: “Do jeito que está, ficou totalmente fora do contexto”.
O Iphan dá como certa a transferência da locomotiva para Curitiba. “Não temos nada contra Londrina e sabemos que é desagradável retirar algo com ligação histórica com a cidade. Mas a proposta feita pela associação é de que todo o material ferroviário cedido será restaurado para rodar. Não queremos apenas uma recuperação estética e decorativa. Colocar a locomotiva nos trilhos é algo que Londrina não ofereceu”, explica José La Pastina Filho, superintendente do Iphan de Curitiba.
“A locomotiva que está aí pode viajar por qualquer local. Mas da forma como o equipamento está, em uma situação complicada, enxergamos como obrigação do Iphan vê-lo funcionar onde haja condições”, afirmou.
La Pastina disse ter enviado uma carta à prefeitura de Londrina e à secretaria de cultura em que detalha a questão e compromete-se a enviar outras máquinas para a cidade, “no futuro”, caso os projetos de revitalização ferroviária da cidade contemplem a obrigação de fazer os equipamentos rodarem.
Até o momento, não há uma data específica para a retirada da locomotiva da frente do PAI. A reportagem não conseguiu contato com a ABPF para saber sobre a possibilidade de o equipamento permanecer em Londrina.
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