Contribuições
Especialistas sugerem formas de equilibrar o sistema de transporte
O transporte integrado em uma rede metropolitana implica em grandes deslocamentos e é difícil escapar disso. Para especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo, algumas medidas poderiam ser tomadas para garantir o equilíbrio financeiro do sistema, desde a adoção de anéis tarifários até a promoção de maior ocupação empresarial nos eixos de transporte.
Para o engenheiro Luís Antonio Lindau, PhD em Transportes e diretor-presidente da Embarq Brasil, é preciso repensar a situação dos passageiros que fazem pequenos trechos dentro da cidade, nitidamente urbanos. "São usuários com objetivos distintos, urbano ou metropolitano. É possível considerar tarifa única para deslocamentos que tenham a mesma finalidade", sugere. Lindau acredita que a tendência seja a adoção de tarifas diferenciadas, proporcionais à distância percorrida.
Já para o diretor do mestrado e doutorado em Gestão Urbana da PUCPR, Fábio Duarte, o problema do transporte é que o planejamento metropolitano não é integrado, então as cidades se desenvolvem, em muitos casos, longe das bordas de Curitiba, que é o polo. "Se fosse mudado o zoneamento junto aos terminais, dando incentivo para instalação de empresas num raio próximo, permitiria um maior adensamento de passageiros e exigiria que menos linhas se deslocassem até Curitiba", analisa.
RIT
A Rede Integrada de Transporte (RIT) garante a integração física e tarifária da capital e outros 13 municípios da Grande Curitiba. Embora o preço da passagem seja o mesmo para todos os usuários, os ônibus da região metropolitana têm menos passageiros pagantes por quilômetro rodado.
Um dos grandes desafios da Rede Integrada de Transporte (RIT) de Curitiba e região metropolitana é racionalizar o sistema, para cortar custos e garantir que mais moradores das cidades vizinhas utilizem os ônibus. Enquanto nas linhas urbanas, que circulam apenas em Curitiba, o índice de passageiros por quilômetro rodado (IPK) em 2013 chega a 2,291, no metropolitano a relação cai para 1,355, diferença que se mantém na série histórica. A diferença ocorre porque as linhas metropolitanas mantêm um deslocamento que é 50% menor do que o realizado pelas urbanas, mas com um quarto (25%) dos passageiros.
O resultado da combinação de longas distâncias percorridas com poucos passageiros é o aumento no custo do transporte nessas linhas e no sistema em geral, já que o IPK é usado no cálculo da tarifa. Estimativas feitas pela Urbs, operadora do sistema, mostram que o sistema deve operar com um déficit anual de R$ 80,8 milhões e essa relação foi uma das razões para o pedido de manutenção do subsídio do governo estadual. A ajuda foi fixada em R$ 40 milhões até fevereiro de 2014, além da isenção do ICMS que incide sobre o óleo diesel. A prefeitura de Curitiba também vai fazer um aporte de R$ 22,3 milhões.
Para o diretor-presidente da Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec), Gil Fernando Bueno Polidoro, a culpa pelo déficit da RIT não é culpa exclusiva do transporte metropolitano. "Precisamos encarar um núcleo urbano central como uma grande cidade e olhar a coisa como um sistema único e integrado", defende. Para Polidoro a realização da pesquisa de origem e destino dos passageiros, para identificar quais são as principais demandas de transporte, seria fundamental, desde que associada a uma análise das tendências de ocupação e adensamento de regiões, além da projeção de crescimento populacional.
Soluções
A licitação das linhas metropolitanas, cujo edital deve ser lançado ainda neste ano, pode trazer algumas soluções para racionalização do sistema, como adoção de micro-ônibus e opção por terminais intermediários de conexão. "A partir do momento em que você coloca carregamentos intermediários, com ônibus de maior envergadura para o transporte até a capital, mas até chegar a eles ônibus menores, tem racionalização de custos e otimização de linhas", analisa Polidoro.
O presidente da Urbs, Roberto Gregório da Silva Junior, sugere duas frentes para a redução do custo do transporte metropolitano. Uma delas é a adoção de anéis tarifários para a remuneração de empresários, com repasses diferentes de acordo com a distância percorrida pelos ônibus. Outra é a licitação por zonas operacionais de acordo com a região geográfica e as características os veículos. A primeira medida é para que não haja mudanças na tarifa única, considerada uma política de governo e patrimônio social. Já o zoneamento operacional pode reduzir custos de remuneração.
Serviço urbano estruturado ajudaria a manter a integração
Uma cidade que mantenha linhas urbanas estruturadas para o transporte interno pode colaborar com a redução das distâncias percorridas. Para vencer as distâncias dentro das cidades, os moradores podem usar as linhas municipais e é preciso um menor número de linhas para fazer a ligação com a rede integrada.
Isso ocorre, por exemplo, em São José dos Pinhais. O município possui dois terminais de transporte e apenas um deles o Afonso Pena possui ligação direta com a rede integrada. Para os passageiros que usam o Terminal Central, é preciso pagar outra passagem para pegar um veículo da rede integrada que leva até o terminal do Boqueirão, em Curitiba. Nesse caso, a remuneração da empresa que opera esta linha é dividida entre a prefeitura e o estado.
O secretário de trânsito e transporte da cidade, Adriano Marcus Carias Muhlstedt, ressalta, porém, que a integração total traria mais benefícios para os moradores.
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