Ludmila Lins Grilo, que foi impedida de exercer o cargo de juíza e é alvo de dois processos no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e de investigação no Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou nesta quarta-feira (3) que está em "asilo político nos Estados Unidos" desde 2022. Ela decidiu manter a saída do país em segredo por mais de um ano e disse que se sente segura "na terra da liberdade" por conta, segundo ela, da "ditadura que se instalou no Brasil".
"Passei todo esse tempo reorganizando minha vida, e chegou a hora de revelar o que aconteceu. Sou, oficialmente, uma juíza brasileira em asilo político nos Estados Unidos", escreveu a magistrada em um blog pessoal. Segundo ela, seu status nos Estados Unidos não é mais de turista, com permissão de permanência pelo trâmite de processo de asilo político.
Ludmila conta que ainda exercia a atividade de juíza quando se instalou nos Estados Unidos e que cumpria toda a agenda diária da vara criminal, por videoconferência. "Sofri calada todo tipo de difamação quanto à minha conduta profissional, pois ainda não podia revelar que eu não morava mais no Brasil", explica.
Em 2022, a magistrada passou a ser investigada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, por declarações políticas e por críticas ao inquérito das fake news. Em junho de 2022, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG) abriu um processo disciplinar contra ela após Ludmila condenar, nas redes sociais, juízes que acreditam em denúncias sem provas em casos de estupro, lesão corporal e outros crimes contra mulheres - o que chamou de "fé cega da Justiça".
Em fevereiro de 2023, o CNJ decidiu instaurar dois processos disciplinares contra Ludmila e determinou seu afastamento do cargo de titular da Vara de Infância e Juventude de Unaí (MG). Já no mês seguinte, o TJ-MG decretou a aposentadoria compulsória da juíza. Ludmila foi acusada de violar deveres do magistrado, por supostamente adotar procedimento incompatível com a dignidade, a honra e o decoro de suas funções.
Após toda a "perseguição jurídica", ela explica que silenciou sobre a "condição de asilada política", porque estava se documentando para fixar no Estados Unidos. A magistrada disse à Gazeta do Povo que apresentará às autoridades americanas e à Corte Interamericana de Direitos Humanos toda "trama envolvendo os atos persecutórios praticados pelo STF, mais especificamente por Alexandre de Moraes, assim como pelo CNJ e TJMG".
"Cada conta de rede social que for bloqueda, cada ataque do STF, cada lawfare, cada ameaça, ainda que virtual, serão utilizados em meus processos nos EUA, e também serão entregues aos profissionais da mídia e da justiça estrangeiros que acompanham meu caso", complementou.
Em entrevista à Gazeta do Povo, Ludmila disse que "não pretende voltar ao Brasil" e lamentou "a implantação de uma ditadura por meio da cúpula do Poder Judiciário". Também mencionou que "as chances são mínimas" de uma mudança no Brasil, mas diz que mantém "a esperança pela via de milagre, e não dos homens".
Ao seguir nos Estados Unidos, ela declarou que pretende continuar dando aulas e que já está em interação com juristas, jornalistas e políticos para expor a situação do Brasil no exterior.
- CNJ está amordaçando juízes com pensamento divergente, diz ex-corregedora nacional
- Casos de juízes processados pelo CNJ por motivações políticas se multiplicam
- Banida das redes e da magistratura, juíza Ludmila volta à internet no “Locals”
- Ludmila Grilo se oferece para dar treinamento jurídico a senadores para sabatina de Dino
Soraya Thronicke quer regulamentação do cigarro eletrônico; Girão e Malta criticam
Relator defende reforma do Código Civil em temas de família e propriedade
Dia das Mães foi criado em homenagem a mulher que lutou contra a mortalidade infantil; conheça a origem
Rotina de mães que permanecem em casa com seus filhos é igualmente desafiadora