
Na casa do programador de web Leandro Marcinhack, 26 anos, e da professora de educação física Patrícia Argenton, 24 anos, as tarefas domésticas são divididas o mais igualmente possível. A funcionária pública federal aposentada, Evanize Santos Kaneko, 68 anos, diz que seu marido, o advogado aposentado Bráulio Arruda, 74 anos, é uma bênção. Todos os dias, quando ela acorda, o café da manhã já está pronto e as frutas lavadas e cortadas. Tudo preparado por ele.
Ao contrário do que parece, os dois casais não são aberrações da vida conjugal. Eles traduzem as estatísticas apontadas pelo estudo feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad). De acordo com o levantamento, de 2001 a 2005 aumentou em 8,6 pontos porcentuais a participação masculina nos afazeres domésticos. No mesmo período, as mulheres tiveram um aumento de 1,1 ponto porcentual.
A pesquisa mostra ainda o perfil dos homens que mais contribuem: os sulistas, casados sem filhos, com mais de doze anos de estudo e aqueles com mais de 60 anos. São eles que reclamam menos de ter de lavar louça, passar roupa, arrumar a casa, etc.
Este é o caso de Patrícia. Casada há 11 meses com Marcinhack, eles ainda não têm filhos. O casal vive uma verdadeira lua-de-mel nas tarefas domésticas. "Nos fins de semana, ela cozinha e eu lavo a louça e arrumo a mesa. A roupa nós dois lavamos. Para o resto do trabalho contamos com a ajuda de uma diarista", diz ele. "Eu sempre saio mais cedo, aí ele arruma a casa. Como chego antes, já vou arrumando também", afirma Patrícia.
A divisão contudo não é completamente igualitária. "Admito que ela acaba trabalhando um pouco mais do que eu", diz Marcinhack. "Acho que pelo fator cultural eu acabo tomando mais iniciativa", diz Patrícia. Em média, no arranjo familiar do "casal sem filhos", os homens trabalham 10,2 horas semanais, enquanto as mulheres gastam 24,3 horas por semana na mesma atividade. Mesmo assim, os homens casados sem filhos são os que mais trabalham em casa.
O estudo do IBGE mostra também que, quando os filhos chegam, os homens reduzem a participação nos afazeres domésticos, enquanto as mulheres têm a carga horária aumentada. Os homens passam a gastar 9,6 horas semanais e as mulheres, 29 horas.
O advogado Hugo de Oliveira, 36 anos, pai há apenas 4 meses, arrisca uma explicação. "Eu fico pouco tempo em casa, nesse pouco tempo quero aproveitar o máximo para ficar com o Felipe. Eu não exijo que a minha esposa faça as tarefas, temos deixado a casa mais de lado agora", afirma.
A esposa de Oliveira, Suraya Kalluf, 25 anos, tem outra explicação. "Ele me ajuda, mas acho que por estar mais em casa, agora, ele acha que eu tenho mais tempo para cuidar desses afazeres. Vamos ver como vai ser quando eu voltar a trabalhar", diz ela.
Feliz mesmo é Evanize. O marido sempre contribuiu em casa. Mas, depois que ele se aposentou, a ajuda ainda mais. "Fico mais em casa agora. Acho que é mais que justo eu fazer isso", afirma o maridão.