Autógrafos e pedido de esperança aos flagelados
Na sua segunda visita à Santa Catarina, depois da tragédia provocada pela chuva, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou para visitar desabrigados. No maior abrigo de Blumenau, com 300 moradores, Lula abraçou, beijou e deu autógrafos. A cada pessoa que o presidente abraçava, ele pedia para ela ter força e esperança.
Foi assim com a família da costureira Tânia Aparecida Maciel, que deixou sua casa porque corria risco de desabamento. Lula pegou no colo a filha de Tânia, a menina Layza Brenda, de 46 dias, que saiu de casa enrolada num cobertor.
No final da visita, o presidente recebeu um papai-noel de pano feito pelos funcionários da escola. O presente era uma homenagem de Natal ao presidente. Já Tânia não tem boa perspectiva para o fim de ano. "Só teria um feliz Natal se houvesse alguma coisa para apagar tudo isso da cabeça da gente. Não queria ter passado por isso", disse. (BMW)
Pacote
Medidas anunciadas para os municípios atingidos pela enchente:
R$ 350 milhões para o porto de Itajaí, em obras de dragagem, recuperação do berço destruído pela chuva e construção de sistemas de proteção no caso de novas enchentes.
Obras nas rodovias BR-101, BR-280, BR- 470 e BR-282, a um custo de R$ 123 milhões.
R$ 70 milhões depositados para ações de saúde.
Linha de crédito na ordem de R$ 300 milhões à disposição de empresas do setor pesqueiro, com prazo de oito anos para o pagamento.
R$ 1,7 bilhões em crédito especial para empresas afetadas pela enchente, prejudicadas pelo fornecimento de gás e micro e pequenas empresas, para gerar capital de giro e para o pagamento de aluguel, salários e 13º. Prorrogação por seis meses no pagamento de tributos e impostos federais
Para os agricultores, serão repactuadas as dívidas e destinados recursos a fundo perdido para agricultura e pesca artesanal. Há possibilidade de prorrogação do prazo para operação de custeio.
Financiamento ao governo estadual para obras na rede elétrica.
Itajaí - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que esteve ontem pela segunda vez em Santa Catarina desde o início da tragédia das enchentes, anunciou um extenso pacote de medidas para o estado. No total, o dinheiro prometido para as diversas medidas ultrapassa R$ 2 bilhões. O principal problema é que todas as obras precisam de tempo para serem feitas e nada alivia a angústia atual dos 33,5 mil catarinenses que continuam sem poder voltar para suas casas.
Lula pediu que os flagelados tenham "esperança, afirmou já ter ficado em abrigos "por conta de enchentes e apelou à compreensão das famílias que perderam tudo dizendo que "não é possível fazer uma casa em um dia". "Nem tudo que a gente fala hoje acontece hoje", disse o presidente.
Mais do que o anúncio de investimentos ao estado castigado pela chuva, a visita serviu para a equipe de Lula acompanhar como está a concretização das primeiras medidas anunciadas na visita anterior, há 15 dias. Lula explicou que um dos motivos que o trouxeram de volta à Santa Catarina foi a necessidade de se acompanhar a liberação do dinheiro, para que chegue aos atingidos.
No Vale do Itajaí, o presidente sobrevoou áreas que foram alagadas em Ilhota, Gaspar e Blumenau. Já são 126 mortes e ainda há 27 desaparecidos no estado. Lula disse que a situação é melhor do que a que ele viu há duas semanas, mas ainda é impactante.
O prefeito de Itajaí, Volnei José Morastoni, disse que as medidas anunciadas são importantes, mas é necessário que elas se traduzam em ações concretas. "O povo está pedindo", disse ele. Segundo o prefeito de Blumenau, João Paulo Kleinubing, serão necessários pelo menos R$ 300 milhões para a reconstrução da cidade. O governo federal, segundo ele, teria liberado apenas R$ 6,4 milhões até o momento.
O presidente e sua comitiva, composta por sete ministros, voltaram para Brasília deixando ações concretas, como a ordem de liberação do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) aos trabalhadores atingidos pela enchente e a assinatura da ordem de serviço para a dragagem dos sedimentos trazidos pela chuva no canal de acesso do porto de Itajaí.
A concentração de sedimentos impediu o funcionamento do complexo portuário e a dragagem é o primeiro passo para que ele volte a operar. A previsão é que dentro de 60 dias a obra fique pronta. Por dia, o porto deixa de movimentar US$ 35 milhões da economia nacional.
"Queremos acompanhar passo a passo (as ações em Santa Catarina) para se criar um novo paradigma", falou Lula. "Não vamos nunca evitar a quantidade de chuva, mas, quando ela chegar aqui embaixo, temos que controlar", afirmou. O governador de Santa Catarina, Luiz Henrique da Silveira, disse que das cinco metas de ação do governo a mais importante é a investigação da causa da tragédia climática, a maior que o estado já sofreu.
O ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, disse que até o dia 31 de janeiro todas as rodovias federais afetadas (BR-101, BR-280, BR-470 e BR-282) estarão recuperadas. Já o trabalho nas encostas das rodovias levará mais seis meses para ser concluído.
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