Rio e São Paulo O terceiro debate entre os candidatos a presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB), ontem à noite, na Rede Record, levou para o centro das discussões o corte de gastos públicos e a elevada carga tributária, além das denúncias de corrupção. Lula, que lidera as pesquisas com cerca de 20 pontos de vantagem, chegou a acenar para um entendimento no caso de ser reeleito domingo, mas Alckmin foi duro.
"Respeito as pessoas, sou educado, mas não podem exigir de mim impunidade. Ando nas ruas e as pessoas estão indignadas. Como dizia Santo Agostinho: prefiro os que me criticam, porque me corrigem , do que os que me adulam, que me corrompem. Não adianta ficar bravo, os fatos têm que ser corrigidos", disse, referindo-se às investigações dos casos de corrupção no atual governo.
O tema do corte de gastos foi abordado, logo no primeiro bloco, em uma pergunta feita por Lula a Alckmin.
O petista afirmou que a gestão tucana, que o antecedeu, duplicou a dívida e perguntou em que setor da economia o adversário pretende fazer cortes, caso seja eleito.
"Vou cortar na corrupção. Acho que o que a imprensa tem conhecimento é a ponta de um iceberg. Quando entrarmos nos ministérios, saberemos o que está acontecendo. Se o candidato acha que não tem como cortar, o Brasil não tem como crescer. Ele (Lula) aumentou em mais 13,5% a carga tributária. O governo Lula é aumento de gasto e desperdício, aumento de imposto e corte de investimento. Quem estabilizou a economia foi o Plano Real. E o PT votou contra. Foi o custo PT. O partido fala 25 anos uma coisa e depois faz outra", reagiu Alckmin.
Sanguessuga
Citando o governador eleito de São Paulo, José Serra, Lula reagiu atacando mais uma vez o governo de seu antecessor, o presidente Fernando Henrique Cardoso.
"Se eu fosse presidente em 98, com o Serra ministro da Saúde, certamente não teria acontecido o caso sanguessuga. Porque 80% dos crimes dos sanguessugas começaram naquela época. Nós provamos que é possível fazer as coisas acontecerem. Porque a economia cresceu mais do que nos oito anos passados."
O tucano afirmou, em sua réplica, que o adversário não pretende reduzir despesas, caso seja eleito. "Vai ter aumento de imposto no ano que vem. Ele escolhe mal. Ele escolheu tirar R$ 8 bilhões dos aposentados. Não pode dar aumento para milhões de aposentados, mas deu R$ 9 bilhões para o fundo de pensão de uma estatal", afirmou Alckmin.
A primeira troca de farpas entre os candidatos foi provocada por Alckmin, que, logo na apresentação, citou o que chamou de "novo escândalo" do governo Lula: a suspeita de superfaturamento de R$ 100 milhões nas obras de reforma e ampliação do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, de responsabilidade da Infraero. Em seguida, perguntou se era "coincidência" a sucessão de escândalos no governo petista.
Na resposta, Lula provocou Alckmin mais uma vez, ao acusá-lo de bloquear o andamento de 69 CPIs na Assembléia Legislativa de São Paulo, quando foi governador.
O tucano novamente sustentou que os escândalos apareceram porque o ex-deputado federal Roberto Jefferson cassado pela Câmara dos Deputados por quebra de decoro denunciou. "Não é verdade. Isso tudo surgiu porque a imprensa denunciou, porque o Roberto Jefferson levou à sociedade brasileira o mensalão. Era só a sua palavra. Depois foi aparecendo a rede que o procurador-geral disse que era uma quadrilha de 40 ladrões", disse Alckmin.
"Parece que ele (Alckmin) tem o mesmo discurso e a mesma tese. Não percebeu que não tá dando certo, porque o povo está repudiando. Se ele tivesse visto o voto do Congresso para a votação dele.... O Jefferson foi cassado por falta de decoro. Me surpreende que se use uma pessoa da formação política do Jefferson para acusar e condenar outras pessoas", devolveu Lula.
Munição
A suspeita de superfaturamento nas obras em Congonhas voltou a ser munição de Alckmin no segundo bloco, quando o tucano cobrou explicações de Lula. "As obras foram pagas. Não existe isso de dizer que não foram pagas", disse Alckmin.
"O Ministério Público aqui (SP) por conta das eleições foi muito rápido, não tem nenhum julgamento do Tribunal de Contas da União. Não dá para resolver os problemas das denúncias no período eleitoral", disse o petista.
Lula reagiu com ironia a uma provocação do tucano, que acusou o adversário de beneficiar os banqueiros em sua administração: "Esses banqueiros são ingratos porque receberam tanto de mim e votam tudo no Alckmin", reagiu Lula.
Alckmin devolveu, criticando a reação do adversário: "O candidato Lula gosta de ironia, mas as questões do Brasil são mais sérias. É mais para a gente ficar triste com o que está acontecendo na política brasileira. O Brasil está igual caranguejo, anda de lado. Estamos perdendo oportunidades."
Desculpas
O presidente pediu desculpas aos telespectadores, pelo que chamou de desinformação do adversário. "Precisa reconhecer que com a grata colaboração do povo salvamos esse país que estava quebrado. Não só salvamos. Ainda fizemos política de distribuição de renda."
O debate, na Rede Record, foi o penúltimo entre Lula e Alckmin, na segunda etapa da disputa. As regras permitiam o embate mais direto entre os dois adversários: em três dos cinco blocos, os candidatos faziam perguntas entre si.
O próximo e último debate será na sexta-feira, na Rede Globo.