São Paulo e Guarujá Como estudante, Luiz Inácio Lula da Silva era tímido e introvertido. Segundo a professora aposentada Justa Valentim, de 74 anos, que deu aulas a Lula por três meses em 1957 na Escola Nossa Senhora Aparecida, na periferia de São Paulo, o futuro presidente era um aluno atencioso, que adorava leitura e tirava notas boas, mas ficava encabulado ao ser corrigido ou quando não entendia alguma coisa. "Ele abaixava a cabeça e ficava envergonhado", diz ela.
No livro "O Filho do Brasil", de Denise Paraná (Editora Fundação Perseu Abramo), relançado recentemente. Lula diz que só conseguia se soltar nos campos de futebol do bairro. "Eu era uma pessoa muito trancada. Só ficava extrovertido dentro do campo. Era lá que eu gritava, que eu brigava, que eu xingava".
Não ter completado os estudos é uma das tristezas do presidente Lula. Ele fez os quatro anos do antigo primário, passou três anos no curso de torneiro mecânico do Senai e chegou a cursar o supletivo ginasial quando era sindicalista, mas não fez os testes finais. No dia 1.º de janeiro de 2003, ao ser diplomado pelo Congresso , ele foi às lágrimas e desabafou: "E eu, que durante tantas vezes fui acusado de não ter um diploma superior, ganho o meu primeiro diploma, o diploma de presidente da República do meu país", disse, soluçando.
Certamente naquele momento Lula lembrou o esforço de sua mãe, dona Lindu, morta em 1980, que teve de enfrentar o marido Aristides, sertanejo duro e por vezes rude, para que os filhos pudessem estudar. A história foi contada pelo próprio Lula ao jornalista Mário Morel e publicada no livro Lula o início (Editora Nova Fronteira).
"Eu me lembro que minha mãe me colocou na escola e ele (Aristides, o pai) não queria. Xingou minha mãe. E no primeiro dia em que fui à escola, quando eu estava chegando, ele estava parado em pé no portão como se fosse um todo-poderoso, para me dar bronca porque eu tinha ido para a escola. Eu cheguei meio escondido, atrás de uns pés de cará, com medo de chegar perto dele".
José Ferreira da Silva, o Frei Chico, irmão mais velho e uma espécie de mentor de Lula, confirma a história. "Meu pai era muito ignorante e não queria que ninguém estudasse. As mulheres, para não poderem mandar cartas para os namorados. E os homens porque para ele homem tinha é que trabalhar", recorda Frei Chico, irmão de Lula.
No livro de Morel, Lula diz que uma professora quis adotá-lo quando a família, cansada dos maus tratos de Aristides, mudou-se para a Vila Carioca, em São Paulo, no ano seguinte.
Dona Lindu pegou uma lata para guardar pão, a trouxa de roupas, algumas panelas e foi com os filhos para a Vila Carioca três anos depois de ter saído de Pernambuco em um pau-de-arara. Em São Paulo, Lula terminou o primário.