Brasília As sucessivas trapalhadas e o inventário de escândalos envolvendo petistas da máquina partidária levaram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a um ataque de nervos. Em conversas mantidas com coordenadores de sua campanha, na semana passada, Lula avisou que no início de 2007 a cúpula do PT terá de sofrer uma reforma radical. Mais: pediu aos auxiliares que "se mexam" para antecipar o 3.º Congresso do partido, inicialmente previsto para o segundo semestre.
"O PT precisa passar por um profundo processo de transformação", disse o presidente a governadores eleitos da sigla. Lula prega a "revisão dos 27 anos", idade que o partido completará em 10 de fevereiro. "Só não falo que é choque de gestão porque detesto essa palavra", emendou, irritado, numa referência à expressão usada com freqüência pelo adversário do PSDB, Geraldo Alckmin. "Mas vocês precisam ajudar: não dá mais para ficar assim."
Adiado inúmeras vezes para não atrapalhar o governo com disputas internas, o congresso do PT é agora aguardado com ansiedade pelo Palácio do Planalto, pois tem poderes para mudar a direção do partido, eleita em setembro.
"Mas ou se salva o Lula ou se salva o PT: os dois não se salvam na sua forma original", previu o deputado federal Paulo Delgado (PT-MG), um dos acadêmicos da legenda, que não foi reeleito. A conclusão de Delgado passa por um diagnóstico desolador: para ele, criador e criatura não conviverão sem traumas enquanto Lula for presidente. "O PT doutrinário teve de se adaptar ao governo pragmático e isso violou a sua natureza. Hoje, o PT é um self-service, onde cada um se alimenta de conveniências. Nós, dos chamados mandatos de opinião, fomos ficando ridículos nesse PT pragmático", lamentou Delgado.
Abacaxi
Para o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, o colega mineiro está muito pessimista. "Os partidos que expõem suas crises se salvam. Os que se escondem vão para a sarjeta da história", teorizou. Até agora, no entanto, o acerto de contas no PT não está completo.
Desde o escândalo do mensalão, há um ano e quatro meses, o partido já teve quatro presidentes: José Genoíno, Tarso Genro, Ricardo Berzoini e Marco Aurélio Garcia, que assumiu o cargo há nove dias. Antes deles, José Dirceu ex-ministro da Casa Civil que acabou cassado pela Câmara, acusado de comandar um milionário esquema de compra de votos chefiou o PT de 1995 a 2002.
Chamado às pressas para socorrer o partido, Marco Aurélio Garcia deixou a assessoria de Assuntos Internacionais do Planalto e assumiu o "abacaxi" petista na reunião da Executiva Nacional, que afastou Berzoini e expulsou os quatro "aloprados" que tentaram comprar por R$ 1,7 milhão um dossiê contra o tucano.
Foi tensa a última conversa de Lula com Berzoini, que, na prática, não deverá retornar ao posto. Quando sua saída oficial for concretizada, porém, uma nova disputa em banho-maria poderá transbordar. Na tentativa de contornar a crise anunciada, o Planalto busca nomes de consenso na sucessão petista. O primeiro é o próprio Marco Aurélio, que, até o momento, cumpre uma tarefa de transição. Depois dele, o mais cotado é o secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci.