Brasília Pela primeira vez, depois de reeleito, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enumerou o que seriam três pontos essenciais na reforma política que ele prometeu ao longo de toda a campanha. Lula disse que, "para renovar" o quadro partidário brasileiro, é preciso aprovar um mecanismo de fidelidade partidária, adotar o sistema das listas internas para a escolha dos candidatos que concorrem nas eleições e o financiamento público das campanhas. Lula deixou claro, porém, que a reforma será "obra dos partidos e do Congresso".
O presidente listou esses três pontos da reforma política em entrevista aos jornais "Le Figaro", da França; "La Reppublica", da Itália, e "El País", da Espanha, na última quarta-feira, antes de partir para um período de descanso pós-campanha eleitoral na Bahia. Segundo a versão da entrevista publicada pelo "Le Figaro", o presidente tratou a reforma política como medida necessária para evitar os escândalos de financiamento ilegal das campanhas eleitorais.
Aos três correspondentes dos jornais europeus, o presidente da República disse que seu governo continuará a empreender "uma batalha contra a corrupção" só comparável à Operação Mãos Limpas levada a cabo na Itália. A operação italiana, iniciada em 1992, desvendou as conexões da Máfia com o poder público italiano e fez mais de mil prisões entre políticos, empresários e "capos".
Crescimento
O presidente argumentou que colocou a "casa em ordem" depois de quatro anos de sacrifícios para equilibrar as contas, e que o Brasil pode agora passar para uma etapa de crescimento econômico mais vigoroso. "O controle da inflação continua a ser a prioridade, por conta de seu impacto considerável sobre a renda de muitos pobres. Nós não podemos permitir nenhum erro nessa área", afirmou.
O segundo mandato, na visão do presidente, "pode ser infinitamente melhor que o primeiro". Lula reiterou que não tem mais o direito de comparar os êxitos de sua gestão aos "insucessos" do período FH. "Eu devo tomar como referência o meu primeiro mandato e fazer melhor. É bem mais difícil."
Hegemonia
Para Lula, a integração sul-americana continuará a ser a prioridade de sua política externa porque o Brasil tem fronteira com nove dos 11 outros países da América do Sul. "Nós queremos abolir do nosso dicionário o termo "hegemonia". O Brasil não será o líder de seus vizinhos, mas um parceiro", afirmou.
Lula defendeu que a prioridade de sua política exterior na América do Sul, México, Índia, China e África é uma forma de "reverter" a concentração do Brasil na conquista de mercados na Europa e nos Estados Unidos, que caracterizou os governos anteriores.
Apesar de colocar essa estratégia com clareza, lembrou que os Estados Unidos são o primeiro parceiro comercial do País.
Avesso a comparações com líderes vizinhos da América do Sul, Lula declarou que o presidente Hugo Chávez "é bom para a Venezuela". E teve o cuidado de assinalar que a "relação do Brasil com os Estados Unidos não é a mesma da Venezuela com os Estados Unidos". Sem mencionar os prejuízos da Petrobrás com a nacionalização do setor de gás e de petróleo na Bolívia, afirmou que Evo Morales "está certo ao defender os interesses" de seu país.
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