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cloroquina
Pesquisa utilizou dosagem de 600 mg de cloroquina, de 12 em 12 horas, por 10 dias, em pacientes terminais. FDA indica dose máxima de 1.500 mg em três dias| Foto:

O infectologista da Fiocruz Amazônia Marcus Vinícius Guimarães de Lacerda, que será condecorado nesta quarta-feira (12) pelo presidente Lula com a condecoração da Ordem Nacional do Mérito Científico (ONMC), foi o responsável por pesquisa realizada em 2020, com altas doses de cloroquina, que resultou na morte de 11 pacientes.

Em abril de 2020, em entrevista para a Gazeta do Povo, ele disse ter usado uma dosagem de 600 mg de cloroquina, de 12 em 12 horas, por 10 dias, para tratar doentes terminais com Covid, em hospital de Manaus (AM). Segundo a bula do remédio, não se pode ingerir mais de 1.500 mg da substância no decorrer de três dias. Depois das primeiras mortes, a pesquisa foi interrompida.

Em abril de 2020, o Ministério Público Federal (MPF) no Rio Grande do Sul abriu inquérito civil para apurar possíveis ilegalidades do médico, mas encerrou as investigações sem divulgar os motivos. A Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), ligada ao Conselho Nacional de Saúde (CNS) e ao Ministério da Saúde, responsável pela avaliação de pesquisas científicas, por outro lado, arquivou investigação contra o médico, apesar de ter identificado "descontrole" no estudo em relação à cadeia de prescrição, dispensação e aplicação das doses.

Na época, início da pandemia, o pesquisador justificou o uso da dose acima da indicada pela Food and Drug Administration (FDA, a agência de fiscalização sanitária nos Estados Unidos) pela necessidade de tentar reproduzir no Brasil uma pesquisa chinesa, que relacionava efeitos positivos da substância contra a Covid. Lacerda admitiu ter feito duas modificações à pesquisa original: utilizar cloroquina (mais tóxica), ao invés de hidroxicloroquina; e uma dose maior, 600 mg a cada 12 horas, não 500 mg, como teriam feito os chineses. Lacerda também não enviou à reportagem a pesquisa que ele disse estar reproduzindo, e nem esclareceu se o levantamento chinês teria sido realizado em laboratório ou em humanos.

Em julho e agosto de 2021, a Gazeta do Povo publicou duas reportagens com parentes de pacientes que morreram durante a pesquisa com a suposta superdosagem de cloroquina. Eles mostraram prontuários das doses aplicadas e denunciaram ações que consideraram antiéticas, como a falta de transparência dos médicos envolvidos e falta de informações sobre o que estava ocorrendo com os pacientes.

Além de Marcus Lacerda, 27 pesquisadores assinam a pesquisa. Entre os financiadores do estudo estavam o governo do Amazonas, a Farmanguinhos (Fiocruz-Manaus) e a Fundação Oswaldo Cruz.

Lacerda foi crítico ao uso da hidroxicloroquina no estágio inicial da doença, como fizeram diversos médicos durante a pandemia. Pela Covid ser uma doença desconhecida, alguns profissionais de saúde, ao estudar o mecanismo do coronavírus, começaram a usar, em 2020, esse medicamento (adotado para doentes de malária há mais de 40 anos) e outros, sempre em pacientes com os primeiros efeitos da doença (não em estágio terminal). Não há ainda pesquisas conclusivas, mas estudos recentes indicam que essa alternativa pode ter sido favorável a essas pessoas.

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