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Carruagens

Luxo sobre 4 rodas

Até o desembarque da corte portuguesa no Brasil, os meios de transporte eram precários e desconfortáveis

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Lunardi e a carteira de cocheiro amador: exigências da época |

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Lunardi e a carteira de cocheiro amador: exigências da época

Veja a evolução deste meio de transporte e os nomes corretos |

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Veja a evolução deste meio de transporte e os nomes corretos

A primeira vez em que o Brasil viu um meio de transporte refinado sobre rodas, foi quando a corte portuguesa se mudou para o país. Nas 15 embarcações que compunham a Real Esquadra vieram entre 10 e 15 mil pessoas e muitos móveis domésticos, entre eles tranquitanas e berlindas. Foram elas que começaram a ditar os padrões de moda para a locomoção. Antes disso, os brasileiros, mesmo os que tinham mais dinheiro, estavam acostumados a andar a pé, a cavalo, em carros de bois e, no máximo, em carroças precárias puxadas por mulas.

Como lembra o jornalista Laurentino Gomes, autor do livro 1808, a corte trouxe o luxo das carruagens com frisos dourados, cortinas de veludo e pajens ou cocheiros uniformizados. Vieram ainda cavalos nobres, que andavam pelas ruas esburacadas do Rio de Janeiro com plumagens na cabeça. "Antes, os convidados iam às cerimônias no palácio São Cristóvão com carroças simples puxadas por mulas. Só depois, quando a família real chegou ao Brasil, é que os ornamentos começaram a ser usados", explica Laurentino Gomes. As berlindas forçaram a abertura e melhoria das ruas – com a urbanização, as carruagens passaram a ser vistas com certa frequência – elas eram mais confortáveis e velozes (veja a diferença entre os veículos de tração animal nesta página).

Uma mostra no Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro dá uma ideia da evolução do meio de transporte no Brasil. A exposição leva o título "Do móvel ao automóvel" e lembra que foi graças ao veículo de tração animal que o primeiro protótipo de carro foi inventado, na França, em 1770. Um grande peso foi colocado no eixo da frente de uma carroça, fazendo as rodas se moverem – a partir daí foram várias as tentativas para produzir um veículo que se movimentasse por conta própria.

Antes, porém, de um carro Decauville circular pelas ruas do Rio de Janeiro, por volta de 1900, eram as carruagens que faziam as vezes da locomoção confortável. E, mesmo assim, era um privilégio para poucos. A população que teve contato com as berlindas, por exemplo, na segunda metade do século 18, era constituída por funcionários graduados da Justiça e da Fazenda e um ou outro proprietário rural abastado. Até porque, ter um veículo destes implicava grandes despesas, como a manutenção de cavalos e de pelo menos um funcionário, o cocheiro.

Como muitos aspectos da vida social da pessoas, até o século 19, giravam em função das cerimônias religiosas promovidas pela Igreja Católica, foram criadas as berlindas funerárias. Na exposição do museu existem algumas delas, que foram doadas por Joaquim Ferreira Alvez, dono de uma casa funerária em Lisboa. Elas tinham pinturas decorativas que faziam alusão aos cortejos fúnebres. Existia também espaço para transportar cerca de quatro pessoas, além do caixão.

Houve ainda um período em que as traquitanas começaram a ser usadas como veículos de aluguel. Neste caso, a tarifa cobrada, que podia ser definida por percurso ou por hora, era estabelecida pelo governo. Os preços eram tão altos que chegavam a custar mais do que despesas como moradia e alimentação.

A história mostra que as carruagens foram perdendo força com o advento dos carros: no entanto, uma pesquisa interessante, feita em 1899 pela Organização Mundial de Medicina, parece desincentivar o uso do automóvel. Ela advertia que a velocidade acima de 40 km/h ocasionava morte instantânea. Outros dados, porém, mostraram que o número de acidentes com carros era bem menor do que com cavalos: os automóveis registrava um acidente a cada 25 dias, enquanto os acidentes com cavalos aconteciam todos os dias e sempre com alguma morte.

Raridade

Outra peça interessante exposta no Museu Histórico é uma berlinda do século 18 que pertenceu à família real. Há seis anos, técnicos começaram a restaurar a peça, retiraram uma camada de verniz oxidado da caixa e encontraram embaixo uma camada de tinta com fundo azul e um brasão da casa real portuguesa. Há fortes indícios de ela ter pertencido aos filhos da rainha Maria I, porque o brasão impresso é um tributo do herdeiro do trono, além do fato de a viatura ter vindo de Lisboa em 1946.

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