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Má conduta do homem público influencia cidadão

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Um comportamento exemplar deve ser exigido de pessoas públicas, sejam elas celebridades ou integrantes do governo? O questionamento surgiu na semana passada, quando veio à tona a informação de que o secretário de trânsito de Curitiba, Marcelo Araújo, havia acumulado mais de 180 pontos na carteira de habilitação e, mesmo assim, continuava dirigindo normalmente. Justamente o responsável pela fiscalização e punição de infrações de trânsito não estava cumprindo o que manda a legislação: entregar a carteira de motorista e participar de curso de reciclagem para recuperá-la.

Para especialistas, o bom exemplo, principalmente no caso de políticos e celebridades, é quase obrigatório, já que é comum que maus comportamentos como esse reforcem aquela ideia de "se ele burla as regras, eu posso também".

"A mensagem passada, para a maioria, é a de que, se a autoridade não respeita as leis, ‘tanto faz’ se ela respeitar, mas não é bem assim. A população precisa criticar o fato e entender que o que é errado para o povo também é para as autoridades, e não repetir o mesmo erro", explica a pesquisadora do Laboratório de Psicopatologia Fundamental da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Mariana Benatto Schreiber.

Para ela, casos como o do secretário são retratos da dinâmica da sociedade brasileira. "Em outro país, isso não seria tolerado. Por aqui, há uma impressão de que as pessoas públicas não precisam dar exemplo ou a lógica é a contrária, parece que precisamos sempre tirar vantagem das situações."

O professor dos cursos de Psicologia e de Sociologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Cloves Amorim explica que o exemplo faz muita diferença para as pessoas, principalmente se implica consequências positivas ou negativas. "Se eu sigo um modelo e ele não gera consequências, logo o abandono, mas, se tenho um exemplo para cumprir as normas e obedecer às regras, e ele me rende algum estímulo positivo, como reconhecimento ou prestígio entre meus pares, a probabilidade é muito maior de continuar nesse caminho."

Bom exemplo

Mas não vale qualquer liderança e tudo depende da pessoa que serve de exemplo. Quanto melhor a imagem, maior o impacto e a probabilidade de formar opinião e ter adesão de outras pessoas. "Se a Fernanda Montenegro faz uma propaganda na tevê falando sobre a importância das eleições, a probabilidade de isso ter impacto no código de conduta das pessoas é grande, por todo o reconhecimento que ela tem", explica Amorim.

Com pessoas de menor prestígio, a tendência é justamente o contrário. Políticos acusados de corrupção ou celebridades marcadas por flagras em situações constrangedoras facilmente funcionam como exemplos do que não fazer e passam a não ter grande impacto como lideranças.

A professora da UFPR explica que a pressão do grupo também pode funcionar para que determinados exemplos ganhem ainda mais força. "Tudo depende do contexto, mas algumas pessoas são mais frágeis a isso. É comprovado que o ‘eu’ perde força dentro do grupo, e é comum as pessoas delegarem ao conjunto o julgamento das situações. Por isso, é preciso que todos se mantenham críticos e não percam sua capacidade de questionar", comenta Mariana.

Nos Estados Unidos, pesquisas mostram que as pessoas geralmente aceitam melhor uma mudança de hábito quando descobrem que outras pessoas fazem o mesmo. Com isso, uma placa de trânsito dizendo que 95% dos motoristas usam cinto de segurança em uma rodovia vale mais do que outra dizendo que é obrigatório usar o cinto naquele trecho, por exemplo. "A lógica é simples: somos seres sociais e precisamos pertencer ao grupo. Ninguém gosta de se sentir excluído e fora do padrão", ressalta a professora.

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