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Tráfico

Maconha paraguaia não tem fronteira

Cenas de uma operação em zona de fronteira: Polícia Rodoviária apreende 6 toneladas de maconha, dia 10 de julho, próximo a Santa Terezinha do Itaipu, na Costa Oeste | Christian Rizzi / Gazeta do Povo
Cenas de uma operação em zona de fronteira: Polícia Rodoviária apreende 6 toneladas de maconha, dia 10 de julho, próximo a Santa Terezinha do Itaipu, na Costa Oeste (Foto: Christian Rizzi / Gazeta do Povo)
Policial identifica a droga embalada em carroceria de caminhão |

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Policial identifica a droga embalada em carroceria de caminhão

A migração do cultivo de maconha para o Leste e Noroeste do Paraguai aumentou o fluxo de entrada da droga pelo Paraná. As plantações, antes concentradas mais ao Norte do país, agora começam a se espalhar para áreas limítrofes ao Paraná, nas regiões de Salto del Guairá, fronteira com Guaíra, e no departamento (estado) de Alto Paraná, cuja capital é Ciudad del Este, que faz fronteira com Foz do Iguaçu.

A proximidade geográfica com as novas áreas de cultivo reforçou a rota paranaense como porta de entrada de maconha paraguaia no Brasil e fez a Polícia Federal (PF) aumentar em 52,5% as apreensões da droga este ano na fronteira de Foz do Iguaçu. Até a primeira quinzena de julho, os agentes tiraram de circulação 20,9 toneladas de maconha. O total já supera a quantia de todo o ano passado, 13,7 toneladas. O Paraguai produz cerca de 10 mil hectares de maconha ao ano, em quatro safras. Pelo menos 80% da droga é consumida por brasileiros.

Tradicionalmente o departamento de Amambay, região vizinha ao Mato Grosso do Sul, é o que mais produz maconha. Boa parte das plantações ficam no entorno de Pedro Juan Caballero, fronteira seca com Ponta Porã (MS). No Leste paraguaio, o município de Itakyry, a 100 quilômetros de Foz do Iguaçu, é um dos centros do cultivo da droga.

As delegacias da PF em Ponta Porã e Foz do Iguaçu são as que mais apreendem maconha em todo o país. Em 2012, a cidade sul-matogrossense interceptou cerca de 20 tonelas e a paranaense, 14. O total retido no Brasil chegou a 111 toneladas.

O delegado-chefe da PF em Foz do Iguaçu, Ricardo Cubas César, atribui o aumento das apreensões não só à migração do cultivo, mas também à realização de duas operações na região de fronteira, a Operação Fronteira Blindada e a Ope­ração Ágata, das Forças Armadas.

Ambas as ações, desencadeadas no primeiro semestre deste ano, fizeram com que os traficantes freassem o transporte da maconha por um tempo. Agora, com o fim das operações, a movimentação ilegal, não só de maconha, mas de crack e cocaína, cujas apreensões também aumentaram, volta a tomar conta da fronteira. "Vários traficantes, principalmente aqueles com grandes carregamentos, acabaram por represar a maconha esperando o término das operações", explica Cubas.

Cubas César salienta que a chegada de 30 agentes em Foz do Iguaçu este ano contribuiu para a melhoria das condições de trabalho na fronteira e resultou em mais apreensões. Por questões de segurança, o delegado não revelou o efetivo total.

No lado paraguaio, o panorama é parecido. Ano passado, segundo a Secretaria Nacional Antidrogas (Se­nad), foram apreendidas 128 toneladas. Este ano, o total já supera 200.

Francisco Ayala, agente da Senad, diz que no governo anterior, do ex-presidente Fernando Lugo, destituído em junho do ano passado, o número de operações realizadas foi pequeno. No atual governo, do presidente Federico Franco, as operações são mais frequentes, o que explica o crescimento.

O agente também relaciona o aumento da demanda no Brasil com a produção paraguaia. Ele afirma que os eventos realizados no Brasil – a Copa das Confederações e a Copa do Mundo, no próximo ano – são chamariz para a venda de maconha. "Ano que vem tem mundial e as pessoas dedicadas ao tráfico precisam de mais quantidade e vão acumulando", diz. Esta época do ano é a que apresenta melhor safra de maconha do país.

Traficantes têm trânsito livre às margens do Lago de Itaipu

Os 170 quilômetros do Lago de Itaipu, entre Foz do Iguaçu e Guaíra, são um dos principais pontos de entrada da maconha paraguaia no Brasil.

Os traficantes abrem picadas e clareiras dentro da mata, à beira lago, no lado brasileiro e paraguaio, para carregar a droga em barcos ou barcaças de até oito metros. No ano passado, as agentes tiraram de circulação 37 barcos. Em 2013, o número já chega a 22.

No Brasil, a maioria dos "pontos" de parada do tráfico fica dentro de fazendas e sítios particulares. Em alguns, diz a polícia, há permissão dos proprietários. Em outras não. Nessas, o tráfico manda e desmanda.

A Polícia Federal tem uma repartição marítima para patrulhar o lago – a Delegacia de Polícia Marítima (Depom) –, com efetivo suficiente para trabalhar 24 horas, segundo o delegado-chefe Ricardo Cubas César. Vigiar um lago cheio de entrâncias não é algo simples.

As apreensões ocorrem em toda a Costa Oeste e tiram a tranquilidade das cidades interioranas com cerca de 20 mil habitantes.

Rodovias

Outra rota da maconha é a BR-277, que liga Curitiba a Foz do Iguaçu. Via do contrabando e tráfico, a rodovia é palco constante de apreensões.

No dia 10 de julho, policiais rodoviários federais apreenderam 6 toneladas da droga no posto de fiscalização de Santa Terezinha de Itaipu, a 26 quilômetros de Foz do Iguaçu. A droga estava escondida em uma carreta, no meio de sacos de trigo argentino, e seria levada a São Paulo. O motorista, de 41 anos, foi preso.

Farinha

O inspetor da PRF Mar­cos Bonache diz que a farinha de trigo foi carregada em uma empresa de Foz do Iguaçu e seria levada para Pernambuco. No entanto, os traficantes misturaram a maconha à carga em outro local. O motorista apresentou a nota fiscal do trigo, mas a empresa responsável não tem envolvimento com o tráfico, segundo a polícia. "Eles usam a carga lícita para esconder a ilícita", diz.

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