Do outro lado
O cultivo de maconha no Paraguai movimenta uma legião de famintos e desempregados. Eles enxergam na droga a chance de sobrevivência.
O chefe regional da Secretaria Nacional Antidrogas do Paraguai, de Ciudad del Este, na fronteira com Foz do Iguaçu, Rodney Zarde, diz que os plantadores de maconha são moradores nativos que recebem cerca de 50 mil guaranis (R$ 25) ao dia para prensar a droga.
As plantações têm em torno de 10 a 15 hectares e são financiadas por traficantes, inclusive brasileiros. Nas várias operações policiais para erradicar a maconha, é comum encontrar acampamentos com equipamentos apropriados para colher, prensar e embalar o entorpecente. Nas bolsas onde a droga é colocada para o transporte há diferentes nomes, indicando que a maconha é enviada para mais de um traficante.
Em uma operação realizada no início deste mês, na Colônia Naranjito, distrito de Itakyry, a 100 quilômetros da fronteira de Foz do Iguaçu, os policiais encontraram 11,8 toneladas de maconha, avaliada em cerca de US$ 420 mil, e cerca de oito casas próximas às plantações. Foram apreendidas 16 prensas usadas para embalar a droga em forma de tabletes.
A migração do cultivo de maconha para o Leste e Noroeste do Paraguai aumentou o fluxo de entrada da droga pelo Paraná. As plantações, antes concentradas mais ao Norte do país, agora começam a se espalhar para áreas limítrofes ao Paraná, nas regiões de Salto del Guairá, fronteira com Guaíra, e no departamento (estado) de Alto Paraná, cuja capital é Ciudad del Este, que faz fronteira com Foz do Iguaçu.
A proximidade geográfica com as novas áreas de cultivo reforçou a rota paranaense como porta de entrada de maconha paraguaia no Brasil e fez a Polícia Federal (PF) aumentar em 52,5% as apreensões da droga este ano na fronteira de Foz do Iguaçu. Até a primeira quinzena de julho, os agentes tiraram de circulação 20,9 toneladas de maconha. O total já supera a quantia de todo o ano passado, 13,7 toneladas. O Paraguai produz cerca de 10 mil hectares de maconha ao ano, em quatro safras. Pelo menos 80% da droga é consumida por brasileiros.
Tradicionalmente o departamento de Amambay, região vizinha ao Mato Grosso do Sul, é o que mais produz maconha. Boa parte das plantações ficam no entorno de Pedro Juan Caballero, fronteira seca com Ponta Porã (MS). No Leste paraguaio, o município de Itakyry, a 100 quilômetros de Foz do Iguaçu, é um dos centros do cultivo da droga.
As delegacias da PF em Ponta Porã e Foz do Iguaçu são as que mais apreendem maconha em todo o país. Em 2012, a cidade sul-matogrossense interceptou cerca de 20 tonelas e a paranaense, 14. O total retido no Brasil chegou a 111 toneladas.
O delegado-chefe da PF em Foz do Iguaçu, Ricardo Cubas César, atribui o aumento das apreensões não só à migração do cultivo, mas também à realização de duas operações na região de fronteira, a Operação Fronteira Blindada e a Operação Ágata, das Forças Armadas.
Ambas as ações, desencadeadas no primeiro semestre deste ano, fizeram com que os traficantes freassem o transporte da maconha por um tempo. Agora, com o fim das operações, a movimentação ilegal, não só de maconha, mas de crack e cocaína, cujas apreensões também aumentaram, volta a tomar conta da fronteira. "Vários traficantes, principalmente aqueles com grandes carregamentos, acabaram por represar a maconha esperando o término das operações", explica Cubas.
Cubas César salienta que a chegada de 30 agentes em Foz do Iguaçu este ano contribuiu para a melhoria das condições de trabalho na fronteira e resultou em mais apreensões. Por questões de segurança, o delegado não revelou o efetivo total.
No lado paraguaio, o panorama é parecido. Ano passado, segundo a Secretaria Nacional Antidrogas (Senad), foram apreendidas 128 toneladas. Este ano, o total já supera 200.
Francisco Ayala, agente da Senad, diz que no governo anterior, do ex-presidente Fernando Lugo, destituído em junho do ano passado, o número de operações realizadas foi pequeno. No atual governo, do presidente Federico Franco, as operações são mais frequentes, o que explica o crescimento.
O agente também relaciona o aumento da demanda no Brasil com a produção paraguaia. Ele afirma que os eventos realizados no Brasil a Copa das Confederações e a Copa do Mundo, no próximo ano são chamariz para a venda de maconha. "Ano que vem tem mundial e as pessoas dedicadas ao tráfico precisam de mais quantidade e vão acumulando", diz. Esta época do ano é a que apresenta melhor safra de maconha do país.
Traficantes têm trânsito livre às margens do Lago de Itaipu
Os 170 quilômetros do Lago de Itaipu, entre Foz do Iguaçu e Guaíra, são um dos principais pontos de entrada da maconha paraguaia no Brasil.
Os traficantes abrem picadas e clareiras dentro da mata, à beira lago, no lado brasileiro e paraguaio, para carregar a droga em barcos ou barcaças de até oito metros. No ano passado, as agentes tiraram de circulação 37 barcos. Em 2013, o número já chega a 22.
No Brasil, a maioria dos "pontos" de parada do tráfico fica dentro de fazendas e sítios particulares. Em alguns, diz a polícia, há permissão dos proprietários. Em outras não. Nessas, o tráfico manda e desmanda.
A Polícia Federal tem uma repartição marítima para patrulhar o lago a Delegacia de Polícia Marítima (Depom) , com efetivo suficiente para trabalhar 24 horas, segundo o delegado-chefe Ricardo Cubas César. Vigiar um lago cheio de entrâncias não é algo simples.
As apreensões ocorrem em toda a Costa Oeste e tiram a tranquilidade das cidades interioranas com cerca de 20 mil habitantes.
Rodovias
Outra rota da maconha é a BR-277, que liga Curitiba a Foz do Iguaçu. Via do contrabando e tráfico, a rodovia é palco constante de apreensões.
No dia 10 de julho, policiais rodoviários federais apreenderam 6 toneladas da droga no posto de fiscalização de Santa Terezinha de Itaipu, a 26 quilômetros de Foz do Iguaçu. A droga estava escondida em uma carreta, no meio de sacos de trigo argentino, e seria levada a São Paulo. O motorista, de 41 anos, foi preso.
Farinha
O inspetor da PRF Marcos Bonache diz que a farinha de trigo foi carregada em uma empresa de Foz do Iguaçu e seria levada para Pernambuco. No entanto, os traficantes misturaram a maconha à carga em outro local. O motorista apresentou a nota fiscal do trigo, mas a empresa responsável não tem envolvimento com o tráfico, segundo a polícia. "Eles usam a carga lícita para esconder a ilícita", diz.
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