Aos 98 anos, Zenira Lourenço Cunha participou ontem de uma situação que não esperava que ainda fosse vivenciar: a formatura da filha de 71 anos. Zenira, que tem oito filhos, cujas idades variam de 52 a 74 anos, viajou de Paranaguá, no litoral do estado, a Curitiba para prestigiar a data. Emocionada, aproveitou a oportunidade para rever parte dos seus 19 netos, 28 bisnetos e 3 tataranetos. "Faz 35 anos que o meu primeiro filho se formou. É uma satisfação. Não são todos que têm essa vontade e capacidade para estar estudando", afirma.
A responsável pela façanha é a filha Lismary Cunha Pizzato,71 anos, que se formou no curso técnico de Estética, Beleza e Imagem Pessoal do Centro Universitário Campos de Andrade (Uniandrade). Já formada em Pedagogia e avó de quatro crianças, Lismary resolveu voltar a estudar. Na noite de ontem, ela foi a oradora da turma. "Para a nossa família, a idade nunca foi um obstáculo para fazer as coisas. Não vejo a idade como limite dos sonhos. Sempre quero fazer mais", diz.
Juventude
Disposta e risonha, Zenira revela que o segredo para viver muito é ser calma e não se irritar com qualquer coisa. Ela conta que, entre seus medicamentos para pressão, osteoporose e vitaminas, nunca incluiu nada para manter-se jovem. E mais: gaba-se por nunca ter sido internada em um hospital. "Só a minha filha mais nova que eu tive na maternidade. Mas não era hospital", diverte-se.
A vontade de viajar (mas não pode ser de avião) e o interesse pela leitura (preferência pelos romances) continuam presentes na sua rotina em Paranaguá. Diariamente, com a ajuda de uma bengala, vai ao quintal cuidar das plantas, lê jornal, faz crochê e, quando pode, freqüenta a igreja. Devota de Nossa Senhora do Rocio, sente falta de quando podia acompanhar todo o percurso da procissão dedicada à santa, que acontece em novembro.
As companhias dela são três filhos que moram na mesma casa. "Já me perguntaram se é lá que fica o abrigo dos velhos da cidade, porque só se vê gente de cabelo branco."
Além do bom humor, a vaidade também não a abandona. Assim que ganha uma roupa nova, já usa no dia seguinte. Este, inclusive, acaba sendo o presente predileto dela a cada aniversário, data mais aguardada por juntar toda a família. "Já faz dez anos que todos comparecem porque imaginam que aquele aniversário pode ser o último. No ano seguinte, está todo mundo lá novamente", afirma a filha Lismary.
Apesar dos momentos difíceis, Zenira, que perdeu 11 de 12 irmãs, mantém a alegria. Ela não revela aos parentes, que freqüentemente perguntam, até quando pretende viver. "Só Deus sabe. Estou satisfeita de chegar a esta idade porque meus filhos estão crescidos e com saúde." Quando a avó completar 100 anos, a neta Danielle Cunha Pizzato, 34 anos, pretende lançar o livro que está escrevendo sobre Zenira. "O que mais me chama a atenção é a força de vontade de viver dela. Aos 98 anos, tem paixão pela vida."