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Violência

Mãe dá à luz no dia em que filho é morto

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Felipe Matheus nasceu às 13h30 do último domingo, no exato momento em que parentes e amigos velavam o corpo do irmão e xará Felipe Osvaldo da Guarda dos Santos, 19 anos. O nome é uma homenagem da mãe ao filho morto 10 horas antes crivado por balas disparadas por policiais militares da Rondas Ostensivas Tático Móvel (Rotam). A morte abalou o Umbará, bairro acostumado à violência na zona Sul de Curitiba. Desta vez a população não calou. Ontem, saiu às ruas, fez barricada e queimou pneus a poucos metros da cena do crime. O 13.º Batalhão da PM abriu Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar a morte.

A falta de clareza sobre a morte abre um leque de versões. Enquanto a explicação da polícia sairá só daqui a 40 dias, a versão popular já ganhou as ruas. O medo e a comoção tornam difícil discernir a verdade da fantasia daqueles que ontem protestavam pedindo paz. O laudo do Instituto Médico Legal (IML), ainda não concluído, dirá quantas balas acertaram Felipe, mas testemunhas garantem que não foram menos do que 30 tiros. "A polícia tem uma lista de 16 marcados para morrer, Felipe foi o primeiro", dizia um colega dele enquanto alimentava o fogo na rua com pneus e móveis velhos.

Segundo vizinhos, domingo à tarde os policiais voltaram para ameaçar a família de Felipe. Foram à casa da mãe, Josane, 37 anos, para intimidá-la, o que teria precipitado o parto de Felipe Matheus. Josane e o marido, Olvaldo dos Santos, 46 anos, moram com os sete filhos em um casebre numa viela paralela à Rua Nicola Pellanda, local do crime. Ela não quis falar sobre a tragédia, mas não faltaram vizinhos dispostos a representá-la no protesto, que para alguns desocupados parecia ter se convertido em festa. Até com garrafa de conhaque alguns desfilavam entre os que clamavam por paz no bairro.

Felipe foi morto 37 dias após sair da prisão, onde permaneceu nove meses por roubo de carro. Segundo a Secretaria de Segurança Pública do Paraná (Sesp), ele tem passagens por homicídio e roubo, além de ter mandado de prisão preventiva a pedido da Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos. Ele dirigia o Gol da mãe quando foi abordado pelos policiais. Colegas dizem que ele saiu de um bar para buscar o carro e ir a um pagode no bairro. A Sesp diz que uma queixa de furto deste veículo foi registrado seis horas antes da morte.

A equipe da Rotam, integrada por um sargento e três soldados, alega que Felipe reagiu a tiros ao bloqueio policial. Testemunhas dizem que os militares travaram a porta com os pés para ele não sair e abriram fogo. Manchinha, como era conhecido, morreu no Hospital do Trabalhador. Segundo os policiais, ele estava com um revólver calibre 38, de numeração raspada. Dos cinco cartuchos da arma, três estariam deflagrados. Os policiais foram afastados das atividades de rua e até a conclusão do IPM farão apenas serviços administrativos.

O Ministério Público deve designar um promotor para acompanhar a investigação. "Caso seja comprovada irregularidade, os policiais serão punidos", disse em nota da Sesp o encarregado do caso, o tenente Carlos Vieira Heberle. O IPM também irá apurar denúncias feitas por parentes do rapaz, que acusam os policiais de terem planejado a morte. O inquérito tem prazo de 40 dias para ser concluído e depois será encaminhado à Justiça Militar, que vai remeter o caso ao Ministério Público, para que ofereça ou não denúncia contra os policiais.

A Polícia Civil deve instaurar outros dois inquéritos. Um pela Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos para investigar a denúncia de roubo do Gol dirigido pela vítima. O outro será uma investigação paralela à da PM sobre as circunstâncias da morte de Felipe.

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