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 | Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo
| Foto: Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo
  • Mães de Curitiba criaram cooperativa para cuidar dos próprios filhos
  • No espaço, crianças brincam e desenvolvem atividades lúdicas
  • Cooperativa incentiva interação entre as crianças e a natureza
  • A mamãe Grace observa Maria Clara, Júlia e João
  • Fábio Aurélio e a mãe, Nadzieja, na sala onde ela cria histórias e seus personagens
  • Nadzieja e Fábio Aurélio: carinho de mãe
  • Após criar três filhos, Maurina Carvalho agora educa o neto, Mateus

Não, não existem fórmulas ou regras. Educar um filho está muito além dos algoritmos matemáticos ou das normas gramaticais. As mães sabem bem disso – e como sabem –, afinal quase sempre cabe a elas o papel de primeira "educadora" dos filhos. Não o da educação formal, do bê-á-bá, mas são elas as responsáveis por abrir as janelas do mundo às crianças. Um caminho permeado de dúvidas e angústias, mas com algumas certezas: é preciso estar perto das crias e o exemplo é fundamental ao desenvolvimento.

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"Nós já nascemos com um potencial para a aprendizagem. Precisamos de um meio que estimule e potencialize isso. É a mãe quem cria esse ambiente ideal. Muito do que a criança vai se tornar vem dessa relação com a mãe", observa a educadora Evelise Portilho, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná.

A duras penas, algumas mães construíram um espaço digno para educar os filhos. É o caso da professora e contadora de histórias Nadzieja Didycz. Recém-separada, ela teve de se desdobrar para criar o rebento, hoje oficial da Polícia Militar. Dava aulas de manhã à noite. E ainda acompanhava as lições e brincava. "Eu cobrava muito dele, mas tinha a recompensa. Acho que toda mãe tem de ter um pouco de fada e de bruxa: sentimental, mas severa", define.

Em uma época em que a Vila das Torres nem sequer tinha água encanada ou luz elétrica, a líder comunitária Maurina Carvalho teve de usar o próprio exemplo para criar os filhos. Deixava os meninos na creche para poder trabalhar, mas, quando um deles começou a fugir da escola, não teve dúvidas: aos 35 anos, matriculou-se para acompanhá-lo nas aulas. "Muitas mães querem deixar a educação para a escola. Mas a escola só qualifica a educação que as crianças recebem em casa", diz. Dificuldades existem, mas nos tornam fortes. O amor sempre vence", completa.

Angústias

A psicóloga Verenice Moteleski Olchel demonstrou que as incertezas sobre a melhor maneira de educar os filhos são mais comuns do que se imagina. Todas as dez mães analisadas numa pesquisa que realizou confessaram angústias quanto à formação das crianças.

"As mulheres se perderam, porque tentavam seguir o modelo aplicado pelas mães delas. Como não tinham outro padrão, não encontravam soluções", diz a psicóloga. "A mãe é quem primeiro apresenta o mundo às crianças. Se isso for passado de forma adequada, do nascimento à adolescência, a pessoa vai se tornar um adulto disciplinado e seguro de si", completa.

Exemplos de educação

Mãe pelo sangue e pela literatura

Os olhos – de um azul cor de céu – de Nadzieja Didycz correm sobre as páginas dos livros. Pouco depois, a história será adaptada e apresentada por ela em alguma das quatro escolas da Vila São Paulo, no Uberaba. Oficialmente, a senhora de cabelos muito alvos teve apenas um filho – Fábio Aurélio, hoje oficial da Polícia Militar. Mas são dezenas e dezenas de filhos adotivos pela literatura, graças a sua atuação como contadora de histórias.

"Tenho alunos que alfabetizei e que, agora, conto história para os netos deles", diz. "Eu continuo me projetando como mãe dos meus alunos. Todo esse carinho está sendo passado adiante", acrescenta.

Filha de presos da Segunda Guerra – o pai, ucraniano; a mãe, polonesa – Nadzieja nasceu em um campo de trabalhos forçados na Alemanha. Chegou ao Brasil com 2 anos de idade. Lembra-se da mãe, que não desgrudava dos livros nem durante o jantar. Pouco tempo depois de ter dado à luz, separou-se do marido – um jornalista boêmio – e, sozinha, se desdobrou para educar Fábio Aurélio. Se as condições financeiras não eram as melhores, a determinação compensou. "Por medo de errar, fui severa demais. Mas fui enérgica para ele se destacar, para ele ser o melhor", diz Nadzieja, que sempre dava um jeito de acompanhar de perto os estudos do filho. "Se ele errava uma coisa, eu arrancava a folha", conta.

Com o filho criado, aumentou a dedicação à literatura. Passou a coletar livros e montou uma biblioteca, em uma sala da associação de moradores da Vila. Foi na mesma época que descobriu a contação de histórias. Adapta e escreve contos e desenvolve fantoches. Sua principal personagem, a Bruxalda Fadrinha, prende a atenção dos seus novos "filhos". "É o olhar deles que me mantém viva", resume.

A "mãe" da Vila Torres

Quando Maurina Carvalho chegou à Vila Torres, em meados da década de 1970, a comunidade era um amontoado de casas, sem saneamento nem eletricidade. Todo o dia, era lata d’água na cabeça. Apesar da pouca idade – contava 16 anos na época – vinha recém-casada. Em pouco tempo, estava com os três filhos, que cresceram com o bairro.

Como a maioria das mães do local, penou para educar os meninos. Ralava como empregada doméstica. À noite, era o momento de ficar com os filhos, cobrar a lição, orientá-los. Surtiu efeito: Paulo se formou em Ciências da Computação; Renato virou técnico da Renault; e Reinaldo aprendeu com o pai o ofício de pedreiro.

Nem os percalços enfrentados com o caçula – que se envolveu com drogas e se tornou dependente químico – desanimaram Maurina. Quando o filho começou a faltar à escola, ela retomou os estudos para servir de exemplo. "Me matriculei na terceira série. Ele estava na quinta. Ele saiu, mas eu acabei ficando", conta.

E não parou mais: fez magistério e cursa Serviço Social. Com os estudos, Maurina se multiplicou. Tornou-se catequista, líder comunitária, conselheira de saúde. Lutou para a implantação da Associação Passos da Criança, um projeto que atende 60 crianças e adolescentes, oferecendo atividades no contraturno escolar. Também participou da briga que culminou com a oferta de educação em tempo integral no Colégio Estadual Manoel Ribas.

Considerada a "mãe" da vila, ajuda e orienta outras mulheres. Além disso, a líder comunitária também educa o neto Mateus, de 12 anos, desde que ele era um bebê. "Amo meu trabalho, mas sofro também, porque ainda há muito por fazer. Tudo é reflexo deste mundo onde poucos têm muito e muitos não têm nada", sintetiza.

Mães no plural

No quintal amplo, o colorido dos bambolês, bolas, pás e outros brinquedos divide o mesmo espaço com o verde do limoeiro e dos pés de alecrim e brócolis. É nesse ambiente propositivo e lúdico que Valentina, João, Maria Clara e Júlia, com idades entre 9 meses e 2 anos, passam as tardes de segunda a sexta-feira.

Não, não se trata de uma escolinha. O local foi organizado por cinco mães, justamente para ser uma alternativa ao modelo de educação formal, como as creches. Funciona como uma espécie de cooperativa: a cada dia, uma delas cuida das crianças. Mas, na prática, são eles – os pequenos – quem mandam. Não há atividades pré-definidas. Brincam do que querem, comem e dormem quando sentem vontade.

"É um espaço diferente para construir conhecimento, com o desejo de que eles se constituam autônomos e cidadãos. Aqui, as crianças podem ser sujeito de sua própria construção", define Maria Gloss, mãe de Maria Clara. "É um modo que nos permite continuar nas nossas profissões e cuidar dos filhos como a gente quer, não terceirizando a educação a uma creche, por exemplo", acrescenta Grace Barbosa, mãe de Júlia.

Com 1 ano e 2 meses, Maria Clara já corre e se suja na areia. Parece não ter medos. Enquanto ela rega uma plantinha, Júlia pede colo para colher limões. Das frutas, a mãe faz uma limonada na hora. "Eles mostram o que querem. Cada um tem uma personalidade, e a gente respeita isso", diz Maria Gloss. O coletivo está prestes a completar um ano, aparentemente bem-sucedido.

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