A indiana Rajo Devi, de 70 anos, provocou a um só tempo polêmica e curiosidade ao mostrar ao mundo seu bebê, nascido em 28 de novembro passado. No Brasil, mães que encararam a gravidez tardiamente, a partir dos 50 anos, reagiram às críticas e apoiaram a decisão da setuagenária de dar à luz.
A avó "barriga de aluguel" Rosinete Palmeira Serrão, que deu à luz os netos gêmeos aos 51 anos, em setembro de 2007, disse ao G1 que torce para que a indiana consiga participar da criação da filha. "Peço a Deus para que ela tenha muitos anos de vida e possa acompanhar o crescimento dela", diz.
Rosinete contou que adora acompanhar o crescimento de seus netos, Antônio Bento e Vítor Gabriel. "Nada mais gostoso que vê-los dando os primeiros passinhos", afirma. "Tive uma recuperação da gestação dos meus netos melhor que a dos meus filhos", afirma.
"Nem religião, nem governo têm que botar o dedo no direito de a pessoa exercer a sua individualidade, no caso dela, de ser mãe. Eu não julgo. A vida está acima de tudo isso", defendeu a economista Lilian Nelmann, de 55 anos, mãe de gêmeos aos 50 anos.
Rajo Devi se submeteu a tratamento de fertilização, assim como Lilian e a administradora de empresa Isadora Silva, hoje com 67 anos, que deu à luz uma menina aos 55. "Se a pessoa está a fim, se tem saúde, se tem pique, não vejo nada de mais. É uma conquista da ciência que beneficia a mulher", comentou ela, que compara os benefícios da fertilização in vitro aos da pílula anticoncepcional.
Mães cinqüentonas ouvidas pelo G1 definiram a gravidez da indiana como um milagre e um ato de coragem. Para o especialista em reprodução humana Roger Abdelmassih, trata-se de um "caso especial". "Aos setenta anos é um exagero. Temos de considerar que são circunstâncias especiais, de um caso especial. Foi doação de óvulo com certeza", avalia o médico, que tem uma paciente de 62 anos que recentemente foi mãe pela primeira vez.
Explicação médica
Joji Ueno, doutor em ginecologia pela Faculdade de Medicina da USP, explica que tecnicamente e teoricamente pode ser mais simples fazer tratamento de fertilização em mulheres de 70 anos, uma vez que elas não têm mais variação hormonal. Entretanto, ele ressalva que outros problemas, comuns a essa faixa etária, contra-indicam o procedimento.
O especialista em reprodução humana assistida aconselha que, a partir dos 50 anos, o tratamento tenha abordagem multidisciplinar, com acompanhamento psicológico, por exemplo. "Não é só ter o filho, é criar esse filho."
Mãe ou avó?
A partir dos 35 anos, a capacidade reprodutiva da mulher começa a declinar devido ao envelhecimento e à perda gradual de células do ovário que podem se tornar óvulos. Quem opta pela fertilização in vitro (união do óvulo com o espermatozóide em laboratório) passa a ter maior necessidade de doação de óvulos a partir dos 45 anos, afirma Roger Abdelmassih. Uma alternativa às mulheres que planejam engravidar mais tarde é a técnica de congelamento de óvulos para fecundação futura.
A gravidez em idade mais madura exige acompanhamento especial quanto a problemas como hipertensão ou alterações glicêmicas. Lilian Nelmann diz que interrompeu sua carreira para fazer repouso absoluto à época era diabética e estava acima do peso. "Foi muito sacrifício. Eram gêmeos. Deixei todo mundo doido. As crianças nasceram prematuras, mas tudo valeu muito a pena."
Unir maturidade à maternidade é um benefício na avaliação dessas mães. Antes da experiência aos 55 anos, Isadora Silva fora mãe aos 18. "(A segunda gravidez) foi muito mais tranqüila. Na primeira, eu queria sair à noite e viajar. Na segunda, era dedicação total." Ela se considera rigorosa com a educação da filha, hoje com 13 anos. "Diferente das mães jovenzinhas, eu uso padrões antigos, horários e regras."
Lilian Nelmann não fica constrangida se confundida com uma avó quando está com seus gêmeos, de 5 anos. "Meus filhos têm duas coisas boas: têm uma mãe e uma avó numa mulher só. Eu sou as duas cosisas numa só", define, com humor.