A exemplo do que já foi identificado em cirurgias ortopédicas, a máfia que paga comissões a médicos para induzir a venda de próteses também faz vítimas entre portadores de doenças cardíacas. Reportagem exibida ontem pelo Fantástico, da TV Globo, mostrou que médicos recebem dinheiro vivo para implantar próteses cardíacas em pacientes submetidos a cirurgias que, muitas vezes, são desnecessárias.

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Exames em 250 pacientes concluíram que 22% tiveram stents implantados sem necessidade. Os dispositivos são pequenos tubos metálicos que desobstruem vasos do coração para evitar infartos. Fornecedores revelaram que pagam entre R$ 3,5 mil e R$ 4 mil por cada stent implantado.

Caso coloquem dez num mês, médicos podem faturar por ano R$ 480 mil livres de impostos. E o doente que precisa de um stent pode sair do hospital com três.

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Há ainda pacientes que recebem stents com prazo de validade vencido, que podem falhar na prevenção de infartos fatais. Uma mulher que se diz representante de um distribuidor mostra planilhas que indicam que médicos de um hospital de Itajaí (SC) recebem uma propina maior se usam dispositivos vencidos ou próximos da data de vencimento. O esquema pode render aos profissionais até R$ 30 mil por mês.

Em Uberlândia (MG), a Polícia Federal descobriu marcapassos no coração de pacientes que não precisavam deles. Os cirurgiões ficam com até 50% do que é pago pelos aparelhos, que chegam a custar R$ 80 mil.

No domingo anterior, o Fantástico já havia revelado a associação de médicos e vendedores de próteses ortopédicas que causou prejuízo de R$ 7 milhões ao Sistema Único de Saúde (SUS).

Os médicos encaminhavam pacientes a advogados, que obtinham liminares a partir de orçamentos superfaturados para forçar o SUS e os planos de saúde a pagarem os procedimentos. As comissões encarecem os implantes, limitando o acesso de quem realmente precisa. O presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Carlos Vital, sugeriu o tabelamento dos preços de próteses e implantes. Florentino Cardoso, da Associação Médica Brasileira (AMB), defendeu a cassação do registro dos médicos envolvidos.

A série do Fantástico motivou pedidos de abertura de CPIs na Câmara dos Deputados e na Assembleia do Rio Grande do Sul. O governo federal criou, na semana passada, uma força-tarefa para combater a máfia.

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