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 | Daniel Derevecki/Arquivo / Gazeta do Povo
| Foto: Daniel Derevecki/Arquivo / Gazeta do Povo

A maioria dos remédios antidepressivos é ineficaz em crianças e adolescentes que sofrem de depressão grave, podendo ser, eventualmente, até perigoso, aponta um amplo estudo publicado nesta quinta-feira (9) no periódico médico britânico The Lancet.

Realizado por um grupo internacional de pesquisadores, o estudo revê 34 testes em mais de 5 mil crianças e adolescentes, com idades entre 9 e 18 anos, envolvendo 14 antidepressivos.

Apenas um desses medicamentos, a fluoxetina – comercializada principalmente como Prozac –, mostrou-se mais eficaz do que um placebo para tratar dos sintomas de uma depressão. A fluoxetina também é mais bem tolerada do que os demais antidepressivos.

No sentido contrário, a nortriptilina foi considerada a menos eficaz dos 14 antidepressivos estudados, e a imipramina, a menos tolerada. Já a venlafaxina está associada a um risco crescente de pensamentos suicidas.

Os pesquisadores reconhecem, porém, que a verdadeira eficácia e os riscos de efeitos colaterais indesejáveis graves desses medicamentos continuam no campo do desconhecido, devido à fragilidade dos testes clínicos existentes.

É o caso, sobretudo, dos pensamentos e comportamentos suicidas ligados aos antidepressivos. Em um comentário agregado ao estudo, o pesquisador australiano Jon Jureidini destaca que, no que diz respeito à paroxetina, eles atingem 10% em uma nova análise de dados, contra 3% em estudos já publicados.

Segundo estimativas citadas pelo estudo, 2,8% das crianças entre 6 e 12 anos e 5,6% dos adolescentes sofrem de problemas depressivos graves nos países desenvolvidos. Esse número pode estar subestimado, levando-se em conta a dificuldade de diagnosticar a patologia.

Esses sintomas são diferentes dos observados nos adultos e incluem, em especial, irritabilidade, não querer ir à escola, ou comportamento agressivo.

Em relação aos antidepressivos – que também podem causar, além das ideias suicidas, dor de cabeça, náusea e insônia –, sua prescrição continua a aumentar, ainda que a maioria dos países ocidentais recomende, a partir de agora, que sejam reservados às depressões mais graves e após o fracasso das psicoterapias.

“Os antidepressivos não parecem oferecer um benefício claro nas crianças e nos adolescentes”, concluem os autores do estudo, que acrescentam que “a fluoxetina é, provavelmente, a melhor opção quando o tratamento medicamentoso é indicado”.

Vários especialistas comemoraram os resultados do estudo, que fortalecem as recomendações de países como a França, ou a Grã-Bretanha, no que diz respeito à prescrição de antidepressivos às crianças e aos adolescentes.

O primeiro tratamento das depressões em ambos os grupos deve continuar sendo “a abordagem psicológica, ou relacional”, que é “mais eficaz no longo prazo”, disse à AFP o vice-presidente da Sociedade Francesa de Psiquiatria da Criança e do Adolescente, Daniel Marcelli, que participou da elaboração das recomendações francesas.

“Estamos de acordo com as conclusões dos autores, que consideram que os antidepressivos devem ser utilizados de forma sensata e acompanhados de perto”, declarou a psiquiatra britânica, Bernadka Dubicka.

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