Seis entre dez curitibanos são totalmente contrários ao aborto. Consulta popular realizada pela Paraná Pesquisas, com 605 moradores da capital entre 27 e 29 de outubro, revelou que 57% dos entrevistados são contra a legalização do aborto em qualquer circunstância. O índice caiu um pouco em relação a 2008. Em julho do ano passado, 60% se declaravam contra a legalização. A pesquisa foi feita, na época, logo após a decisão de manter o aborto como crime, aprovada na Câmara dos Deputados.
A pesquisa deste ano mostrou que, entre os que são a favor da prática, 34,5% concordam com o aborto em caso de estupro; 8,6% quando há má formação do feto; e 4,46% devido ao risco de a mãe vir a morrer. Outros motivos apontados em menor escala são quando a mãe não tem condições de criar o filho ou ela é adolescente.
A maioria dos curitibanos acha que a polícia não toma conhecimento da maior parte dos abortos clandestinos e que, quando um feto é encontrado, não consegue identificar a mulher que interrompeu a gravidez de forma ilegal. Segundo o levantamento da Paraná Pesquisas, 89,7% dos entrevistados opinaram que os casos não chegam às autoridades policiais e outros 66,4% que, quando um feto é encontrado, a polícia geralmente não consegue identificar a autoria através de um trabalho de investigação.
Na esfera jurídica, as mulheres que cometem aborto clandestino não estão sendo punidas criminalmente, na opinião de 82,1% dos entrevistados. No entanto, 76,7% acham que a punição deveria ocorrer. Mas o problema não está só no ponto de vista jurídico.
Uma mulher morre a cada oito minutos nos países em desenvolvimento vítima de complicações de abortos inseguros, segundo a Organização Mundial de Saúde. De acordo com o Ministério da Saúde, a interrupção da gravidez é tida como grave problema de saúde pública no Brasil. No país, 31% das gestações são interrompidas, de modo que, anualmente, ocorrem aproximadamente 1 milhão de abortamentos espontâneos e inseguros, com uma taxa de 3,7 abortos para 100 mulheres de 15 a 49 anos.
Estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro em parceria com a Universidade Estadual do Rio de Janeiro entrevistou 123 jovens e chegou à conclusão de que 73% deles consideraram a possibilidade do aborto, "demonstrando uma expressiva presença da ideia desse recurso em face da gravidez não prevista, mesmo em contexto de ilegalidade". Já o Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia entrevistou jovens e mapeou que o aborto foi o desfecho da primeira gravidez de 16,7% das mulheres entrevistadas.
Adolescente foi obrigada pelo namorado mais velho a abortar
"Pensei em fazer aborto, ainda mais com a idade que eu tinha e por causa dos meus pais. Depois que me acalmei, estava gostando da ideia, pensando em padrinhos, nomes, em várias coisas, bem empolgada", relata uma jovem de 23 anos que ficou grávida na adolescência. O pai da criança, no entanto, era mais velho e não queria o filho. Quando ela estava grávida de dois meses, o namorado, que morava em Foz do Iguaçu, viajou a Curitiba para tentar convencê-la que a gravidez naquele momento era algo "péssimo".
"Entrava num ouvido e saía pelo outro. Não queria dizer para ele que não aceitava o aborto. Menti dizendo que tudo bem, que a gente ia ver, mas ele já tinha comprado remédios para eu tomar", afirma. O medicamento era o Cytotec, que ele trouxe do Paraguai. No outro dia, ele pediu para a jovem ir até o hotel em que estava hospedado. Ela sabia que ele ia tentar convencê-la a tomar o abortivo. "Estava decidida a não fazer isso", lembra. O namorado insistia e ela fazia de conta que tomava o medicamento.
Ele percebeu que estava sendo enganado e pediu para a estudante tomá-lo na frente dele. "Eu era tão passiva, deixei acontecer. Nessa hora a gente não raciocina direito." Em casa começaram os efeitos do remédio. Teve cólica e sangramento. Foi para o hospital e teve de ficar no soro. No outro dia, fez a curetagem. "Chorei a noite inteira no hospital. Fiquei bem arrasada, demorei para me recuperar psicologicamente. Coisa que nunca vou esquecer na minha vida", afirma. Contra o aborto, ela diz que deveria ter punição para quem o cometesse. "Se pudesse, faria tudo para voltar atrás."