Se as políticas educacionais continuarem no ritmo atual, o analfabetismo só será erradicado daqui a duas décadas, já que desde 1992 a queda foi de apenas 7 pontos porcentuais. As diferenças regionais ainda são marcantes: no Nordeste o índice chega a 20%, enquanto no Sul não passa de 5,4%. Os dados foram divulgados ontem e fazem parte do estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) 2007, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os dados também são alarmantes em relação à juventude. Há 14 milhões de jovens considerados pobres e apenas 15% deles vivem em famílias com renda superior a dois salários mínimos. Eles também representam 61% dos desempregados. Metade daqueles que têm entre 15 e 17 anos não estão no ensino médio e parcela significativa não trabalha nem estuda, índice que chega a 20% entre as garotas.
A socióloga Ana Luísa Fayet Sallas, professora da Universidade Federal do Paraná, afirma que o quadro não é novidade. "Faz tempo que o jovem encontra dificuldade em permanecer na escola. Quando eles não estão na série correta há uma desmotivação em função de serem os mais velhos da turma. Eles se sentem desajustados."
A diminuição da desigualdade também caminha a passos curtos. Quando se compara negros e brancos e população rural e urbana as diferenças são significativas. O índice de analfabetismo entre os negros é quase o dobro e entre quem vive no meio rural é 23%, enquanto nas cidades não passa de 4,4%. Mozart Neves Ramos, presidente-executivo do Todos Pela Educação, diz que o Brasil avançou, mas um filho com pais analfabetos tem menos chance de chegar à faculdade, o que ocasiona um círculo vicioso.
O estudante de Direito Renato de Almeida Freitas Júnior é um retrato das dificuldades que um jovem negro da periferia tem quando os assuntos são trabalho e educação. Assim como milhares de outros brasileiros, ele vem de uma família nordestina migrante, cresceu sem o pai e a mãe não concluiu o ensino fundamental. "É muito difícil fazer planos a longo prazo quando se tem contas para pagar no fim do mês. Fico chateado por ver que meus colegas não tiveram a mesma sorte que eu. A desigualdade é uma herança estrutural de pobreza e renda difícil de mudar."