A divulgação de que mais 402 espécies entraram para a lista de ameaçadas de extinção desperta o debate: os levantamentos que comprovam os riscos estão cada vez mais precisos ou os esforços para evitar que mais animais e plantas estejam em perigo não têm surtido resultados? Os especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo consideram que ambos os cenários explicam o aumento constante na quantidade de espécies ameaçadas.
A atualização da chamada lista vermelha foi anunciada na semana passada pela União Internacional para a Conservação da Natureza ligada à Organização das Nações Unidas (ONU). Pesquisadores do mundo todo avaliaram as condições de vulnerabilidade e perigo da fauna e flora e estabeleceram os níveis de risco para 65 mil espécies.
Fernando Passos, primatologista e professor do departamento de Zoologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), já participou de pesquisas de riscos para a sobrevivência de macacos, por exemplo. No momento, 25 espécies de primatas no mundo estão entre as mais ameaçadas e duas delas são brasileiras: o macaco-caiarara, que vive na Região Amazônica, e o bugio-marrom, habitante de Minas Gerais e Bahia.
Para Passos, as condições de pesquisas estão melhores, com mais incentivos, estrutura e interessados. É possível, assim, acompanhar melhor os riscos a que está exposta uma variedade maior de espécies. Contudo, a crescente presença de animais e plantas na lista vermelha também indicaria que as áreas naturais estão passando por degradação. "Tem mais informação disponível, mas as atitudes para proteger as espécies não estão sendo suficientes", comenta a bióloga Cosette Xavier, que já foi coordenadora nacional de fauna no Ibama.
Planos de ação
Ugo Vercillo, coordenador-geral de manejo para conservação do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), conta que a lista feita pelo Brasil é ainda mais rigorosa e abrangente que a divulgada pela ONU. Enquanto o levantamento internacional aponta 1.008 espécies brasileiras ameaçadas de extinção, a listagem nacional se aproxima de 1,1 mil.
Entre as pessoas consultadas pela reportagem, Vercillo é o único que discorda sobre a falta de efetividade dos esforços para resguardar espécies ameaçadas. Ele afirma que planos de ação são desenvolvidos para garantir uma rede de proteção. "Mas a humanidade está, sim, ampliando fronteiras, alterando hábitats, aumentando a exploração dos recursos naturais, invadindo os oceanos, em resumo, explorando mais e assim pressionando as demais espécies", diz.