A recusa de familiares em doar órgãos de parentes com morte encefálica foi um dos principais motivos para a queda de 30% de potenciais doadores no Paraná (de 174 para 122), na comparação do primeiro semestre de 2006 com igual período de 2007. "Sem a autorização familiar não conseguimos captar órgãos", diz o assessor técnico da Central Estadual de Transplante do Paraná, Celso Reis.
No primeiro semestre do ano passado, a negativa familiar respondeu por 18,4% das causas de não efetivação da doação. O Paraná tinha a terceira menor taxa de recusa do país. Já em 2007, esse porcentual saltou para 32%, e o estado para a oitava posição. "Acredito que há um descrédito no Sistema Único de Saúde e desconfiança no sistema de transplante", diz Reis.
Não existe mais a doação presumida e, por lei, só a família pode autorizar a retirada de órgãos do parente morto. A assistente social Eliz Angela Chinato Pagnoncelli diz que no Hospital Universitário Cajuru já houve caso de filhos autorizarem a doação de um paciente que declarou-se não doador nos documentos pessoais. Segundo ela, os familiares negam a doação por não aceitar a morte, por desconhecer o assunto e não haver diálogo sobre isso na família.
A dúvida de doar ou não os órgãos da filha marca até hoje o casal Maria de Lurdes e Rubens Felipe da Silva. Eles perderam duas filhas há dois anos num acidente de trânsito.
A mais nova estava grávida e morreu na hora. A mais velha morreu no hospital, com possibilidade de doar os órgãos. "Eu fui a favor para salvar outras vidas", diz a mãe. O pai foi contra: "É difícil para a gente que é pai." (BMW)