Curitiba – A Tábua da Mortalidade no Brasil, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), além do mostrar um incremento na expectativa de vida do brasileiro também mostrou outra realidade: cada vez mais idosos assumem o papel de provedor e chefe da família, com destaque para as mulheres sem cônjuge, fato decorrente, em grande parte, da maior longevidade feminina.

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Em 2000, das 9,9 milhões brasileiros com 65 anos ou mais, 6,4 milhões eram responsáveis pelas suas próprias famílias. Em 1991, o número de idosos que sustentavam suas famílias era de 4,3 milhões. Um incremento corresponde a 47,6% a mais de idosos chefes de família.

O movimento pode ser explicado pela inércia do envelhecimento populacional, assim como o aumento da idade a partir da qual os dependentes deixam seus lares, além das dificuldades financeiras.

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Raquel Wilhelm de Jesus, 71 anos, é um exemplo desse novo perfil do idoso brasileiro. Ela é a responsável pelo sustento de sua filha Rosana, 50 anos, e de seu neto Gabriel, 17 anos. "Eles sempre moraram comigo, minha filha é professora, ganha R$ 400 por mês, então não teria condições de ser independente ", explica.

Para poder sustentar a casa e a família, há cinco anos, Raquel utiliza a pensão de viúva de coronel da polícia militar. O fato não a incomoda nem um pouco, pelo contrário: "sou muito feliz por ser a responsável por eles, faz eu me sentir útil", afirma. Raquel faz questão de frisar o quanto é independente. "Viajo sozinha, vou a casa das minhas amigas, adoro passear, espero viver com qualidade de vida até os 90 anos", diz.

De acordo com o chefe do Serviço de Geriatria do Hospital Universitário Cajuru, José Mário Tupiná Machado, o aumento no número de idosos que assumem o papel de chefes da família pode ter causado um impacto positivo no aumento de expectativa de vida do brasileiro, justamente pelos motivos apontados por Raquel. "O fato deles se sentirem mais útil, faz com que se sintam mais vivos, façam planos e tenham sonhos", afirma.

Segundo Machado, o desafio de sustentar a própria família pode virar uma motivação para o idoso.

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