Na estrada
Lusitana roda o interior da Lapa para atender comunidades desassistidas
Designada para a Lapa, na Grande Curitiba, a médica portuguesa Maria Tereza Pereira Pestana faz parte do grupo de profissionais do Mais Médicos que está atendendo em locais onde não havia médicos fixos no Paraná. A profissional, vinda de Lisboa e que chegou há menos de um mês, recebe pacientes nas localidades de Passa Dois, Faxinal dos Castilhos I e II, Mato Preto Santa Regina e Mato Preto Machado. Há um ano, os postos de saúde dessas comunidades não recebiam a visita de um médico. No último dia 31, ela foi pela primeira vez na unidade básica de saúde de Mato Preto Santa Regina, distante 33 quilômetros do centro da Lapa.
Clínica geral e especialista em saúde da família, ela se mudou para o país atraída pelo Mais Médicos. "Faz uns cinco anos que queria vir para o Brasil. Até que surgiu essa oportunidade", afirma.
Logo no primeiro dia de trabalho na comunidade, Maria Teresa já teve algumas consultas agendadas e outras realizadas. O primeiro paciente foi o aposentado Miguel Rodrigues Ferreira, 53 anos, que possui hanseníase. "Agora, a gente está aliviado que tem um médico para atender." Fato endossado pela agricultora Maria Rosa da Silveira, 48 anos. "Não importa se é médico estrangeiro ou não. Precisamos ter atendimento", desabafa.
Convencimento
Propaganda visa dar resposta direta ao problema da população
Na apresentação do Mais Médicos, o governo federal afirma que o programa faz parte de um "pacto para melhorar o atendimento aos usuários do SUS, que prevê mais investimentos em infraestrutura" e a contratação de médicos para áreas em que há ausência de profissionais.
Na avaliação do especialista em marketing político Carlos Manhanelli, mesmo não resolvendo o problema da saúde pública do país, o programa deverá ter reflexos positivos para a presidente Dilma Rousseff na campanha de reeleição. "A saúde no Brasil é tão difícil que qualquer coisa que se faça vai contar positivamente. O que está na cabeça da população é que não tem médicos. A resposta a isso tem de ser direta: o programa vai suprir essa falta", explica.
Colaboraram Tatiane Salvatico, da Gazeta Maringá, e Denise Paro, da sucursal de Foz do Iguaçu.
A propaganda do governo federal fala em levar médicos para locais desassistidos, mas no Paraná o Mais Médicos vem servindo como complemento ao quadro de profissionais já existente. Levantamento da Gazeta do Povo em 28 das 30 cidades do estado que receberam profissionais pelo programa indica que, dos 136 médicos que chegaram, apenas 24 estão em locais onde não havia médico fixo o equivalente a 18%. O restante foi direcionado para unidades de saúde que estavam com déficit de profissionais.
INFOGRÁFICO: Veja a distribuição dos médicos no Paraná
Em Curitiba, por exemplo, os 23 profissionais do programa foram designados para atender em postos que já têm quadros médicos. "Nenhuma das 109 unidades de saúde estava sem médico. Mas precisamos dos profissionais para completar as equipes, como as da Saúde da Família", explica o diretor de Atenção Primária de Saúde, Paulo Poli Neto.
A avaliação é que redes consolidadas como a da capital precisam de ampliação. "A realidade é diferente em cada lugar do Brasil. Não é o fato de ter um médico que determina se a população está sendo atendida. Há locais em que a demanda é muito grande e precisam de mais profissionais", comenta a professora do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília (UnB), Ximena Pamela Bermudez.
É o caso da cidade de Capanema, no Sudoeste do Paraná, que recebeu um médico pelo programa federal. O profissional irá atender em uma unidade que já contava com outros dois médicos. "Tinha gente que chegava às 10h30 no posto e não tinha mais possibilidade de ser atendido", revela o secretário de Saúde Geancarlo Denardin. A unidade atende cerca de 200 pacientes por dia.
Dificuldade
Um dos tutores do programa no Paraná, o médico Francisco de Oliveira destaca que há dificuldades para levar médicos para os municípios mais afastados. "Os intercambistas e brasileiros é que escolhem a cidade para onde querem ir. E a maioria prefere ficar próxima aos grandes centros. A tendência é que os médicos [cubanos] do acordo com a Opas [Organização Pan-Americana de Saúde] sejam encaminhados para as cidades com os menores IDH [Índice de Desenvolvimento Humano]."
Entre os municípios que ainda aguardam um médico do programa está Doutor Ulysses, na Grande Curitiba, que possui o menor IDH do Sul do país. "Fizemos o pedido para receber dois médicos, mas até agora não veio nada. Até estive em Brasília para saber por que ainda não fomos contemplados, mas ninguém soube explicar", diz o prefeito Josiel dos Santos.
Atualmente, a cidade conta com três médicos uma pediatra e dois clínicos gerais. Duas unidades de saúde do município ainda não foram inauguradas por falta de profissionais. Há expectativa de que Doutor Ulysses tenha a sua demanda atendida no mês que vem, quando uma terceira leva de médicos de Cuba chega ao Brasil.
Estrangeiros se queixam de SUS burocrático
Se por um lado as condições físicas das unidades de saúde satisfazem os médicos estrangeiros que atuam no Paraná, a burocracia aparece como o principal obstáculo para os profissionais. A lentidão para realizar exames e marcar consultas com especialistas são algumas das reclamações para a continuidade do tratamento.
Em Sarandi (Região Noroeste), por exemplo, os doutores do Mais Médicos salientam que a estrutura nos postos de saúde é condizente ao serviço oferecido pelo Programa Saúde da Família. No entanto, a médica Ana Franchim ressalta que o próprio SUS limita a execução do Mais Médicos. "O ideal do programa é que o médico atenda 90% dos problemas do paciente no próprio posto", afirma. No entanto, segundo ela, mesmo com o parecer do clínico geral, alguns exames só são liberados após consulta com especialista.
A médica argentina Helga Gonzalez se diz surpresa com a infraestrutura disponível. "O Brasil é um país rico. Vocês têm tudo, desde o medicamento comum até o mais complexo". Ela tem 15 anos de experiência profissional e mudou com a família para São Miguel do Iguaçu (Oeste do Paraná), onde atende em quatro postos de saúde da comunidade rural.
Sem senha
O egípcio Mohamed Ali está há menos de um mês em uma unidade de saúde de Curitiba e já sente dificuldades com a burocracia do SUS. Ali reclama que até agora não recebeu a senha para conseguir acessar o sistema que o permite encaminhar pacientes para exames e especialistas. "Por enquanto, tenho de passar o paciente para outro médico que faz o encaminhamento para mim", comenta.
Ali também já detectou antigos problemas da saúde pública brasileira: a demora para realizar exames e a falta de leitos em hospitais e de médicos especialistas. "O Mais Médicos é bom, mas é preciso outros serviços para dar certo. O Brasil precisa também ter mais especialistas, ofertar exames mais rápido e ter uma equipe para trabalhar em conjunto com o médico", resume.
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