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Policiais militares em patrulha em Curitiba: sensação de insegurança está ligada às altas taxas da criminalidade | Marcelo Elias/Gazeta do Povo
Policiais militares em patrulha em Curitiba: sensação de insegurança está ligada às altas taxas da criminalidade| Foto: Marcelo Elias/Gazeta do Povo

Desconfiança

População não confia na polícia

Um dado preocupante do estudo "Sistema de Indicadores de Percepção Social" coloca em xeque a relação entre a população e as polícias em algumas regiões do Brasil. No Sudeste, 75,15% dos entrevistados responderam confiar pouco ou não confiam na polícia. A descrença nas instituições de segurança pública podem gerar consequências graves, de acordo com o sociólogo Luis Flávio Sapori, ex-secretário da Segurança e Defesa Social de Minas Gerais.

"Se eu acredito pouco na polícia, tendo a defender a mim e a minha família com recursos próprios", diz Sapori. Ele avalia que essa situação pode levar a população a se armar. Outra consequência pode ser a subnotificação de crimes. Para o especialista, a falta de confiança faz com que as pessoas não denunciem e não registrem os crimes, o que cria um efeito cascata que resulta em impunidade.

Por outro lado, o Sul, que tem taxas de homicídio mais altas do que o Sudeste e menos investimentos na área de segurança, é a segunda região que mais confia na polícia. Segundo a pesquisa, 31,4% dos entrevistados confia ou confiam muito na instituição. A região Centro-Oeste é a primeira em grau de confiança: 41,35% dos ouvidos.

Já o Nordeste apresentou a falta de confiança em 70,15% das respostas. De acordo com o coordenador da pesquisa, Almir de Oliveira Junior, outros índices sociais podem estar relacionados com as respostas do Nordeste. "Lá, indicadores como educação e serviços sociais podem ser menores, influenciando ainda na sensação de insegurança", comenta.

  • Veja: não há relação entre investimentos e a redução do temor da população
  • Confiança da população nas forças policiais representa outro paradoxo. Veja

A sensação de insegurança da população brasileira não está diretamente relacionada ao nível de investimento na segurança pública do país. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou ontem o estudo sobre segurança pública "Sistema de Indicadores de Percepção Social" em Brasília, que expõe diferenças claras de investimentos e números da violência entre as cinco regiões brasileiras. O estudo relaciona 2.770 entrevistas sobre medo e confiança na polícia. Os moradores da Região Sudeste, por exemplo, têm muito temor de ser assassinados e a segunda maior sensação de medo do país, mesmo tendo o maior investimento per capita no Brasil em segurança e a menor taxa de homicídios por 100 mil habitantes. Já o Sul, que tem pouco investimento, é a região com a menor sensação de insegurança. O levantamento foi feito com base em dados estatísticos de 2009. As entrevistas foram realizadas entre os dias 17 e 31 de maio de 2010.

"O maior investimento não retrata necessariamente a diminuição de medo. Mas sabemos que a criminalidade ocorre por diversos fatores. É claro que gastos com estrutura e efetivo têm efeitos sobre a taxa de violência", afirma o coordenador do estudo, Almir de Oliveira Junior.

A afirmação do pesquisador vai de encontro com as informações relativas à Região Nordeste. Lá, os moradores têm a maior sensação de insegurança do país: 85,8% dos entrevistados disseram ter muito medo de ser mortos. Ao contrário da Região Sudeste, o Nordeste é a região que menos investe em segurança no país. Para Oliveira, embora haja paradoxos nas comparações, uma coisa é certa: "A qualidade de vida não melhora também se a sensação de medo não diminui."

Na opinião do ex-comandante-geral da Polícia Militar de São Paulo, Rui César Melo, especialista na área de segurança, a sensação de medo da população está também relacionada à taxa de roubos. "Não acredito que a percepção da população esteja apenas ligada aos homicídios. Os roubos ocorrem muito mais", diz, contrariando a pesquisa. O estudo definiu o uso da taxa de homicídios para perceber a sensação de medo da população.

Para o ex-secretário de Segu­rança e Defesa Social de Minas Gerais, o sociólogo Luis Flávio Sapori, os dados da pesquisa revelam os desafios que devem ser enfrentados. "As regiões mais violentas ainda são regiões com alto índice de medo. São dados que revelam o grande desafio que as polícias têm pela frente", diz. Co­­mo Melo, Sapori acredita que mais investimentos são necessários, além de uma estratégia para combater a sensação de insegurança.

Sudeste

Minas Gerais e São Paulo, estados mais populosos do Sudeste, puxam a média de homicídios dolosos da região para baixo, com 7,1 e 11 mortes por 100 mil habitantes. De acordo com a pesquisa, o Espírito Santo teve um gasto per capita de R$ 200,67 em 2009. Os capixabas têm ainda a taxa mais alta de homicídios, 57,9 por 100 mil habitantes, menor apenas que a de Alagoas, no Nordeste, com 63,3. "Apesar do maior volume de notícias veiculadas nacionalmente sobre a criminalidade violenta ser referente aos estados do Rio e São Paulo, a Região Sudeste, não é, de fato, a mais violenta", conclui o texto da pesquisa. Na primeira parte da pesquisa, lançada em dezembro do ano passado, o Ipea relatou que nove entre dez brasileiros temiam ser vítimas de homicídio e assalto à mão armada ou ter a casa arrombada.

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