Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Cidades inteligentes

Mais software, menos hardware

 | Ilustração: Gilberto Yamamoto
(Foto: Ilustração: Gilberto Yamamoto)

Esqueça os carros flutuando entre prédios, os robôs atendendo em lanchonetes e hologramas que permitem conversas "ao vivo" mesmo a quilômetros de distância. As cidades do futuro, mais factíveis do que as mostradas nas telas de cinema, já se espalham pelo mundo e destacam a supremacia da informação para aprimorar procedimentos. Nesses locais, urbanistas e gestores públicos têm quebrado paradigmas e defendido uma nova concepção para o desenvolvimento urbano: é preciso investir mais em soft­ware e menos em hardware.

Chamadas de smart cities no exterior, as cidades inteligentes privilegiam a informatização de serviços públicos e o gerenciamento de recursos com base na popularização da internet. Enquanto no Rio de Janeiro um projetopiloto vai instalar medidores que mostram o consumo de energia para o morador em tempo real, em Londres já é possível ver no celular qual o táxi mais próximo e chamá-lo com apenas um toque na tela.

"Nas smart cities do passado, era possível controlar câmeras de monitoramento ou sinais de trânsito. Isso é banal hoje. Agora, o desafio é montar modelos preventivos, contar com informações de redes sociais e de smart­phones", avalia o diretor do Centro de Convergência Digital da Fundação Certi, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Marcelo Otte.

Estrutura

Para especialistas, uma infraestrutura digital consolidada é essencial para que qualquer cidade possa informatizar processos e aproveitar a intimidade dos cidadãos com a internet. No Brasil, estima-se que 44% da população acesse a web com frequên­cia. Além disso, segundo previsão do Ministério das Comunicações, o Brasil terá, até 2020, 1 bilhão de dispositivos com acesso à internet, somando smartphones, computadores, tablets e demais aparelhos.

Por outro lado, um ranking divulgado em outubro pela União Internacional de Telecomunicações (UIT) colocou o Brasil em uma tímida 60.ª colocação, entre 155 países, no quesito qualidade da conexão e dos serviços relacionados à internet e telefonias móvel e celular. Não por acaso, o líder do ranking é a Coreia do Sul, onde a velocidade da conexão chega a 100 megabytes por segundo e o governo subsidia planos de acesso para a população.

"A internet está se aproximando de um papel similar ao da energia elétrica e, daqui a pouco tempo, uma será tão fundamental quanto a outra", destaca o especialista em TI e professor da Universidade Positivo (UP) Leandro Escobar. Veja a seguir algumas ações no Brasil e no mundo que podem servir de referência para a evolução de Curitiba e outras cidades do Paraná rumo ao status de smart cities.

Educação

Só no Brasil estima-se que 47% das pessoas entre 9 e 16 anos usem a web diariamente. Porém, mesmo com o alto grau de penetração entre as crianças e os adolescentes, a internet ainda é pouco usada no país como ferramenta de aprendizado e complemento à rotina escolar.

A administração de Surrey, no sul da Inglaterra, criou um serviço de compartilhamento de e-books com cerca de 800 títulos que podem ser "emprestados" por duas semanas, mediante o download de livros didáticos e acadêmicos. Em Edimburgo, na Escócia, um programa voltado a comunidades carentes promove a educação de adultos com cursos on-line e presenciais.

A proposta de utilizar a internet como complemento à sala de aula também foi adotada recentemente no estado de São Paulo, por meio da Escola Virtual de Programas Educacionais (Evesp). Recentemente, foram abertas 30 mil vagas para um curso on-line de inglês voltado a alunos do ensino médio da rede estadual de ensino.

Saúde

Neste mês, o Ministério da Saúde e a Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro anunciaram uma parceria que permitirá o agendamento on-line de consultas no Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia Jamil Haddad (Into). A intenção é evitar que os cariocas enfrentem longas filas para ter acesso a serviços especializados. Além disso, o projeto contará com um sistema de busca ativa dos pacientes que já passaram por uma triagem de consulta. Cinquenta atendentes vão telefonar para estas pessoas e agendar o próximo atendimento.

Na Inglaterra, um programa voltado a agilizar o atendimento a pessoas idosas também tem chamado a atenção. No condado de Cheshire East, um aplicativo que pode ser acessado por meio de tablets permite que informações sobre as doenças e os medicamentos usados por idosos sejam acessadas por diferentes empresas de saúde – evitando que, a cada atendimento, as informações tenham de ser buscadas novamente com o paciente.

Trânsito

Sistemas de gerenciamento do trânsito por câmeras e painéis eletrônicos têm se popularizado pelo Brasil. Em Curitiba, o Sistema Integrado de Mobilidade (SIM), que conta com um Centro de Controle Operacional, ainda está em fase de implantação – a previsão é de que esteja em pleno funcionamento até a Copa.

No país, a principal referência ainda é o Centro de Operações do Rio de Janeiro, inaugurado no fim de 2010. O centro capta imagens de 560 câmeras instaladas pela cidade e também é abastecido com informações em tempo real das concessionárias e órgãos públicos. Todos os dados são analisados em uma sala de controle.

Na Europa e nos Estados Unidos, as dificuldades no deslocamento também têm sido contornadas por aplicativos em smartphones. Em Londres, por exemplo, o aplicativo de um serviço de táxis permite que você veja na tela do celular qual o carro mais próximo e em quanto tempo ele chegará até o cliente. Basta um toque na tela para chamar o veículo.

Energia elétrica

Alguns gestores têm priorizado o uso da tecnologia no monitoramento dos recursos que abastecem as cidades, como a rede de água e energia elétrica. O termo smart grid (redes inteligentes) foi cunhado para designar esses esforços. No Brasil, a Light, concessionária de energia do Rio de Janeiro, desenvolve um programa em parceria com o Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento (Lactec) do Paraná. O programa já resultou na criação de medidores inteligentes de energia que fornecem em tempo real para o consumidor quanto ele está consumindo. Esse tipo de tecnologia permite que os moradores economizem e priorizem o uso da energia nos momentos de menor demanda. Um projeto-piloto da Light deve ser lançado em breve na comunidade do Morro da Formiga, na Tijuca. Em Curitiba, o Lactec deu início neste ano a uma parceria com a prefeitura e a Copel para uma iniciativa semelhante, voltada à iluminação pública. A intenção é permitir o monitoramento de todos os postes de luz em tempo real.

Espaço urbano

Hoje, apesar de as cidades ocuparem apenas 2% da superfície terrestre, mais de 50% da população mundial mora nos grandes centros. Assim, é preciso não só planejar a ocupação, mas otimizar o espaço urbano. Algumas iniciativas recentes implantadas na Ásia levam a ideia de smart city a um novo patamar. Guangming, na China, possui 12 grandes torres circulares habitáveis, que possuem no topo jardins e hortas que fornecem alimentos para os habitantes das imediações. Subúrbios autossuficientes se desenvolveram ao redor de cada torre, com seus próprios hospitais, escolas e lojas – evitando que os moradores precisem se deslocar ao longo da cidade para ter acesso a esses serviços. Nesse caso, não se trata de tecnologia de última geração, mas sim de uma nova maneira de ordenar a ocupação urbana.

Clique aqui e confira o infográfico em tamanho maior

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.